Em outubro deste ano, somos chamados ao exercício da cidadania, através das eleições. Votaremos para os cargos de presidente, governador, senadores, deputados federais e estaduais. A Igreja do Brasil nos convida a refletir e aprofundar o valor do nosso voto. A Igreja valoriza a política e a tem em alta estima porque o cristianismo deve evangelizar a totalidade da vida humana. O Papa Francisco afirma: “A política, tão denegrida, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum. Rezo ao Senhor para que nos conceda mais políticos que levem verdadeiramente a sério a sociedade, o povo, a vida dos pobres” (EG 205). A política se ocupa de leis e de medidas concretas que afetam diretamente a vida de milhões de pessoas, não apenas um grupo, mas a totalidade dos membros de uma cidade, estado ou nação. Assim, na medida em que a política pode proporcionar o bem-estar a todos, não deixa de ser um exercício de amor e de justiça.
Essa eleição de outubro tem um significado especial, pois é a primeira vez que iremos voltar às urnas após as manifestações de junho e julho de 2013. Na época, milhares de pessoas ocuparam as ruas e praças, exigindo melhores serviços de transporte, educação e saúde de qualidade. Manifestaram insatisfação quanto ao modo que políticos eleitos exercem o poder. Jesus também, na sua época, deparou-se com as situações de pobreza reinante na região da Galileia. Andou, compartilhou sonhos de uma vida melhor com os pobres, coxos, aleijados e doentes. O evangelho segundo Lucas insiste em afirmar que a libertação dos empobrecidos não será possível sem a transformação das estruturas sociais injustas. De acordo com o evangelho, a missão de Jesus reflete-se em nossa missão: é preciso propor mudanças significativas no modo de exercer o poder. Ajudar a eleger pessoas que possam realmente trabalhar por um Brasil mais justo e solidário.
Portanto, o fato de não votar, ou votar em qualquer candidato só para cumprir com uma obrigação, ou ainda anular ou votar em branco, é falta de cidadania e muito mais, abandono de nossa missão de cristãos conscientes. Quem vota em corrupto, compactua e aprova o roubo. Quando votamos mal, ou não votamos, abrimos a porta para a bandidagem, para a acumulação de bens, para a corrupção e a miséria. Dê seu voto apenas a candidatos com ficha limpa, dignos de confiança, capazes de governar com prudência e equidade e de fazer leis justas e boas para o convívio social. Fique atento à prática da corrupção eleitoral, ao abuso do poder econômico e à compra de votos. Candidatos com um histórico de corrupção ou má gestão dos recursos públicos não devem receber nosso voto nas eleições. O voto tem consequências e revela a vontade do povo e suas aspirações. Voto consciente é dado com conhecimento.
Procure conhecer o candidato, sua história pessoal, suas ideias e as propostas defendidas por ele e o partido ao qual está filiado. Antes de votar, verifique se o candidato está comprometido com a superação da pobreza, a promoção de uma economia voltada para a criação de postos de trabalho e justa distribuição de renda. Observe se o candidato e seu partido estão empenhados em promover educação e saúde de qualidade para todos, moradia, saneamento básico, defesa do meio ambiente e respeito à vida humana, desde a concepção até a morte natural. Ajude a promover, com seu voto, a proteção da família contra todas as ameaças à sua missão e identidade natural.
A sociedade que descuida da família, destrói as próprias bases. O voto do cristão é um exercício importante de cidadania e consciência cristã; por isso não deixe de participar das eleições e de exercer bem esse poder.
As mudanças acontecerão na medida em que houver uma participação maior de pessoas que se deixem conduzir pela ética, e para nós cristãos, também pelos valores do Evangelho. Procuremos eleger candidatos que estejam a serviço de uma causa comum: o bem do outro, levando em conta, especialmente, as camadas sociais mais frágeis e necessitadas da atenção do poder público. Que Deus nos ajude a votar bem. Com meu abraço e minha benção.
Dom Luiz Antônio Cipolini, bispo da Diocese de Marília