Fonte: Associação Apostolado do Sagrado Coração de Jesus
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O fenômeno dos estigmas, tal como ocorreu, por exemplo, em Santo Padre Pio de Pietralcina (muito conhecido no Brasil) e outros fiéis, levanta indagações: que tipo de fenômeno é esse? Como se explica? Que sentido tem?
Estigmas são chagas que alguns fiéis trazem em seu corpo, configurando-se a Cristo Crucificado.
O fenômeno é complexo, e envolve estudos de Teologia e Mística, bem como de medicina.
Muitos casos de pessoas estigmatizadas, que se conhecem, foram autenticamente sobrenaturais resultantes de graças extraordinárias concedidas por Nosso Senhor Jesus Cristo. É uma modalidade de participação na Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo decorrente de intensa devoção a essa santa Paixão; têm por finalidade santificar a pessoa estigmatizada por mais íntima união a Jesus Crucificado como também contribuir para a Redenção do mundo no sentido das palavras de São Paulo em Cl 1,24: “Completo em minha carne o que falta à Paixão de Cristo em prol do seu Corpo, que é a Igreja”.
Como explicar? União entre alma e corpo
É inegável a união entre a alma e o corpo, e daí a influência do psiquismo sobre o corpo humano. E vice e versa. Uma idéia intensa, muito viva, pode produzir sinais corpóreos. Assim a sugestão incutida em uma pessoa muito sensível pode redundar em marcas no corpo dessa pessoa correspondentes ao objeto sugerido. O medo faz empalidecer, dilata as pupilas, provoca suor frio, gaguejo, etc. A vergonha faz enrubescer…
1. Estigmas: que são?
A palavra estigma significa sinal, marca, cicatriz, mancha. Vem do grego stigma = picada dolorosa. Do ponto de vista da doutrina católica, indica as chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo, infligidas por ocasião de sua Paixão. E significa as feridas que pessoas piedosas tiveram em seus membros, reproduzindo essas chagas.
O primeiro caso conhecido de pessoa estigmatizada, é o de São Francisco de Assis, que, em 14/9/1224, recebeu em seu corpo os sinais daPaixão. Após São Francisco de Assis, vários outros casos ocorreram na história da Igreja até nossos dias.
Os estigmas são fenômenos que a Teologia, a Medicina e a Psicologia têm estudado intensamente, a fim de lhe dar uma explicação satisfatória do ponto de vista teológico bem como do ponto de vista médico, para evitar falso misticismo ou naturalismo racionalista. Há vários casos de pessoas estigmatizadas que não podem ser elucidados todos da mesma maneira.
3. Estigmas: autenticidade e fraude
Deus concede a certos santos ou santas o privilégio de participarem corporalmente na Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Foram os casos, por exemplo, de São Francisco de Assis, Santa Catarina de Sena, Santa Gema Galgani, Santo Padre Pio de Pietralcina… A santidade de vida deles exclui qualquer possibilidade de fraude, qualquer idéia de teatralidade para chamar a atenção sobre si.
Todavia nem todos os casos de estigmas podem ser diagnosticados com segurança e clareza, como sendo autênticos do ponto de vista católico. Há casos em que estigmas aparecem juntamente com vários sintomas doentios, provenientes de más intenções e mesmo devidos à ação diabólica. Em alguns casos o anseio psicológico de impressionar os outros pode ter produzido a configuração corpórea correspondente.
Sempre foi de grande valia a análise da vida ou do comportamento geral da pessoa estigmatizada. A semelhança é a fonte do amor. Tornando-nos plenamente semelhantes a Deus, a pessoa é capaz de O amar plenamente, e de atrair sobre si a plenitude de Seu amor. Mas o verdadeiro amor de Deus se manifesta na prática da virtude, especialmente na pureza, na justiça, na fortaleza e na bondade.
Deus Nosso Senhor deve ser adorado e servido sobretudo em espírito e em verdade (João 4,25). Assim, cumpre que a pessoa estigmatizada seja antes de tudo pura, justa, forte, humilde, no mais íntimo de nossa alma. Se o exercício das virtudes (amor a Deus e ao próximo, espírito de penitência, prática da oração) é notório, pode-se crer que os estigmas indicam uma predileção de Nosso Senhor Jesus por aquela pessoa.
Os estigmas podem aparecer e desaparecer em determinadas ocasiões. Por exemplo, na noite de Quinta para Sexta-Feira e desaparecer na noite seguinte. Os estigmas são persistentes, apesar de todos os tratamentos e cuidados médicos que se lhe dispensem.
3. Qual o significado religioso dos estigmas?
Na medida em que são autênticos fenômenos sobrenaturais (questão que deve ser cuidadosamente investigada), os estigmas não são essenciais a uma vida santa; a prática das virtudes, mesmo em grau heróico, não leva necessariamente à produção de estigmas.
Quando ocorrem e são genuínos dons de Deus, revestem-se de duplo significado:
– Participação física da Paixão de Cisto, correspondente a um anseio da pessoa piedosa. O Senhor concede a fiéis que se devotam a reconhecer seu Amor Crucificado, a graça de trazer em seu corpo os vestígios da Paixão de Cristo.
– Essa participação da Paixão de Nosso Senhor tem efeito de santificação não só da pessoa estigmatizada, mas também em favor do próximo, segundo diz São Paulo: “Completo em minha carne o que falta à Paixão de Cristo em favor do seu Corpo, que é a Igreja” (Cl 1,24). Na realidade, ninguém acrescenta algum valor à Paixão de Cristo Infinitamente meritória, mas todo cristão pode servir de veículo ou de ocasião para transmissão de graças às outras pessoas.
4. Casos Concretos
Alguns casos concretos de estigmatização, autênticos, não, porém, objetos de fé absoluta para todo fiel.
a) São Francisco de Assis (1181- 1226)
Aos 14 de setembro de 1224, festa da Exaltação da Santa Cruz, enquanto rezava no eremitério do Monte Alverne, São Francisco teve a visão de um Serafim, sobre o qual brilhava o Crucificado. Quando a imagem desapareceu, São Francisco sentiu “o coração arder de amor, enquanto na sua carne estavam impressos os sinais da Paixão do senhor; apareceram nas suas mãos e nos seus pés as marcas dos cravos: além disto, trazia no costado uma fenda como se tivesse sido atingido por uma lança; a túnica e o calção do santo se achavam manchados de sangue. É Tomás de Celano, o biógrafo mais famoso de Francisco, quem o narra (Vita I Parte II, Cap. II, p. 93). S. Boaventura (+ 1274) oferece relato semelhante em Legenda Maior, cap. XIII, p.2. Testemunhas oculares confirmam o fato, pois o puderam observar no cadáver do Santo.
Imediatamente após o falecimento de São Francisco, Frei Elias escreveu ao Provincial da França com grande alegria:
“Anuncio-vos uma grande alegria, ou mesmo um novo milagre. Desde a origem do mundo, nunca se ouviu contar tão maravilhosa coisa, a não ser do Filho de Deus, que é Cristo nosso Deus. Com efeito; muito antes da sua morte, o nosso Pai e Irmão apareceu crucificado, trazendo em seu corpo as cinco chagas, que são realmente os estigmas de Cristo: as suas mãos e os seus pés tinham, por assim dizer, furos devidos a pregos cravados na carne… ao passo que o seu costado parecia ter sido golpeado por uma lança, deixando as marcas de sangue” (S. Boaventura, Legenda Maior Lectio tertia).
A notícia dos estigmas de S. Francisco é tão documentada por testemunhas próximas ao fato que os críticos julgam não os poder pôr em dúvida.
b) Santa Catarina de Sena (1347 – 1380)
Parece que não teve estigmas visíveis, mas chagas internas.
A biografia de Catarina foi escrita por testemunhas fidedignas, como por exemplo, o Bem-aventurado Raimundo de Cápua, confessor da Santa e, posteriormente, Mestre Geral da Ordem Dominicana.
Desde criança, Santa Catarina foi muito atraída por Jesus; retirava-se numa gruta para rezar a sós durante horas. Fez-se irmã da Ordem Terceira de S. Domingos, e teve visões e êxtases que repercutiam sobre o seu corpo. Recebeu estigmas.
Eis como o Bem-aventurado Raimundo o descreve na qualidade de testemunha ocular: “Catarina estava na capela de S. Sixtina em Pisa. Recebeu a S. Comunhão e, como relatam as pessoas presentes na capela, ela estendeu os braços e as mãos: ficou radiante de luz e caiu por terra, como se tivesse sido mortalmente ferida. Pouco depois recuperou os sentidos”.
Conta o Bem-aventurado Raimundo que ela chamou seu confessor, e em voz baixa lhe disse:
“Saiba, ó Pai, que pela misericórdia de Deus, trago no meu corpo os estigmas de Jesus. Vi o Senhor pregado à Cruz: das cicatrizes de suas sacratíssimas chapas desceram cinco filetes de sangue, dirigidos respectivamente às mãos, aos pés e ao coração. Ciente do mistério, exclamei logo: “Ah, Senhor meu Deus, eu Te peço que não apareçam essas cicatrizes na superfície do meu corpo”. Enquanto eu o dizia, antes que os filetes chegassem a mim, a sua cor de sangue se transformou em cor refulgente, e, sob a forma de luz pura, chegavam aos cinco pontos do meu corpo, isto é, às mãos, aos pés e ao coração”.
Perguntou-lhe então o Bem-aventurado Raimundo:
“Nenhum filete chegou ao lado direito?”.
Respondeu ela: “Não, mas sim ao lado esquerdo, acima do meu coração – aquela luz que saia do lado direito de Jesus, feriu-me diretamente”.
Continuou o Bem-aventurado Raimundo: “Sentes dor nesses cinco pontos?”.
Ela, após profundo suspiro, respondeu: “É tal a dor que sinto nesses cinco pontos, especialmente no coração, que, se o Senhor não fizer outro milagre, não me parece possível que eu possa subsistir, escapando da morte dentro de poucos dias”.
Após a morte de Catarina, o Pe. Prior do Convento da Minerva escreveu ao Bem-aventurado Raimundo para dizer-lhe que ele e muitas outras testemunhas tinham visto as chagas no corpo da Santa por ocasião das suas exéquias. Além disto, no pé de Catarina que se conserva em Veneza, se observa a marca das chagas: o mesmo se dá na mão da Santa que é guardada no Convento de S. Sixto em Roma.
c) Santa Verônica Giuliana (1660 – 1727)
Era capuchinha. Foi canonizada por Gregório XI. Desde criança, desejou imitar os mártires, que haviam sofrido por amor de Jesus.
Recebeu os estigmas aos 5 de abril de 1697, no decorrer de longo êxtase. Essas chagas foram observadas pelo Bispo Mons. Eustachi, de Città di Castello, com quatro outras testemunhas e, mais tarde, por diversas Irmãs Capuchinhas. O Pe. Tassinari, que acompanhou o Sr. Bispo, Descreve:
“Mons. Eustachi observou e fez observar a todos nós as chagas das mãos de Irmã Verônica; na parte superior destas, havia uma ferida grande como o calibre de um prego de tamanho médio ou do diâmetro de um pequeno quattrino florentino: em cima de cada chaga, havia uma tênue crosta… Quanto à chaga do costado, à esquerda, seria uma ferida do tamanho do dedo mindinho, larga no meio e pontiaguda nas duas extremidades” (Sumário do Processo de Canonização, p. 212).
d) Santa Gema Galgani (1878 – 1903)
Desde menina, foi muito virtuosa: sofreu vicissitudes de família. Quando ainda nova, um jovem se enamorou dela, e quis pedi-la em noivado. As tias com quem ela morava, consideravam essa perspectiva com bons olhos, porque o rapaz era sério.
Gema, porém, se recusava; sem saber como evitaria o passo, pedia a Deus que a ajudasse. Adoeceu gravemente, ficando desenganada de morte. Mas foi curada imprevistamente após muitas orações.
Numa visão apareceu-lhe Jesus Crucificado. Sentiu profundas dores. Diz ela: “As chagas de Jesus ficaram gravadas na minha mente de maneira tão viva que jamais se apagaram”. Após a S. Comunhão, certo dia, recebeu promessa de um grande presente. Avisou o confessor.
O presente consistia nos estigmas, que se formaram nela enquanto contemplava Jesus com as chagas abertas: destas procediam raios de fogo, que atingiam os pontos correspondentes do corpo de Gema.
Esses estigmas se abriam todas as semanas às 20 horas de quinta-feira e permaneciam abertos até as 15 horas de sexta-feira, derramando sangue. Uma vez terminado o fluxo de sangue, as chagas começavam a se enxugar e fechar. No dia seguinte ou, ao mais tardar, no Domingo, tudo estava fechado e, no lugar dos estigmas, se observava uma mancha branca.
e) Santo Padre Pio de Pietralcina (1887 – 1968)
Foi capuchinho. Durante cinqüenta anos, trouxe os estigmas: alguns desapareceram pouco antes da sua morte; outros, logo depois do seu falecimento. – O caso tem sido estudado meticulosamente, pois é relativamente recente e sujeito a exames mais rigorosos do que os casos anteriormente registrados.
Frei Pio era de saúde fraca, mas homem de grande bondade e virtude; a todos inspirava simpatia e confiança; às vezes passava quinze ou dezesseis horas por dia confessando e atendendo ao povo.
O primeiro especialista que examinou os estigmas de Frei Pio, foi o Prof. Bignami. Deu ordem para que se enfaixassem as feridas na presença de duas testemunhas e se lacrasse a bandagem. Durante oito dias sucessivos, todas as manhãs eram trocadas as faixas. No oitavo dia, foram retiradas definitivamente as ataduras; o Pe. Pio celebrou a S. Missa, verificando-se então que de suas mãos jorrava tanto sangue que as testemunhas foram obrigadas a fornecer-lhe lenços para que as enxugasse. Aliás, dia por dia, as chagas, ao serem descobertas, emitiam sangue.
O Dr. Andréa Cardone, médico da família de Frei Pio desde 1910, afirma que se encontrou em ambas as mãos do padre perfurações do diâmetro de 1,5 cm; atravessavam a palma da mão tão profundamente que esta se tornava transparente para a luz.
Muitos médicos examinaram as chagas de Frei Pio, sem poder averiguar algum indício de embuste, hipocrisia ou mentira. Ficou provado que se tratava de autêntico fenômeno suscitado pela graça de Deus.
5. Conclusão
O certo que se a pessoa é boa, todas as suas ações o devem ser necessariamente, pois que a árvore boa não pode produzir senão bons frutos (Mat.7,17-18). Assim, é absolutamente necessário, para que conquistemos o Céu, não só que em nosso interior amemos o bem e detestemos o mal, mas que por nossas ações pratiquemos o bem e evitemos o mal.
O que faremos no Céu? Contemplaremos Deus face a face, à luz da glória, que é a perfeição da graça, e O amaremos inteiramente e sem fim. Ora, o homem já goza da vida sobrenatural nesta terra, pelo Batismo. A Fé é uma semente da visão beatífica. O amor de Deus, que praticamos, crescendo na virtude e evitando o mal, já é o próprio amor sobrenatural com que contemplaremos a Deus no Céu.
Fonte: Baseado em http://vocacionadosdedeusemaria.blogspot.com/