Com o objetivo de aprofundar e refletir os problemas que afetam as grandes cidades brasileiras e como confrontar esses desafios com a mensagem do Evangelho, aconteceu no último dia 31 de outubro, o Encontro dos Bispos das Capitais do Brasil, no Centro de Estudos do Sumaré, no Rio de Janeiro.
Participaram os arcebispos e bispos auxiliares das arquidioceses do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, São Miguel Paulista e Duque de Caxias. O arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani Tempesta, recapitulou as grandes questões debatidas no mês de março entre as arquidioceses do Rio e São Paulo, com o propósito de situar os demais bispos convidados das supracitadas cidades.
Dom Paulo Cezar expôs o panorama da Igreja no mundo atual, a partir do conceito de pós-modernidade. Abordou o individualismo exagerado do sujeito como consequência da negação metafísica. “A negação da totalidade do sujeito leva o homem a viver sem o transcendente. Vivemos em um mundo que não nos remete mais a Deus e a religião não tem mais importância na vida da sociedade, gerando um indiferentismo religioso”, disse ele. Lembrou da última Carta Apostólica do papa Bento XVI intitulada “Porta Fidei” (nº 2) sobre o ano da Fé, onde o papa lembra que o pressuposto da fé no mundo atual é quase inexistente. “Os cristãos devem se preparar cada vez mais para atuarem em um mundo tecnológico e pragmático. O fechamento ao diálogo com as culturas e as ciências leva a um fundamentalismo ou fanatismo religioso”, completou.
A segunda reflexão do encontro foi feita por monsenhor Joel Portella e versou sobre a Presença da Igreja nas Grandes Cidades. Joel iniciou a exposição estabelecendo a diferença entre urbano e cidade. “Não poucas vezes, um termo vem tomado pelo outro. O citadino é diferente do urbano. O nosso contexto hoje é o das grandes cidades pós-industriais e pós-modernas. Pensar a questão urbana é pensar a presença da Igreja de modo globalizante. As grandes cidades são catalisadoras dos fenômenos globais e urbanos”, disse durante sua exposição.
Por fim, salientou os desafios humanos, sociais e ecológicos que afligem as grandes cidades como os desmatamentos, lixões, transportes, dentre muitos outros. “É sumamente importante conscientizar os nossos leigos sobre estes problemas, além de incentivá-los no ingresso da vida política como caminho de transformação social e testemunho cristão”, completou o monsenhor.
A Santa Missa foi presidida pelo arcebispo de Salvador (BA), dom Murilo Krieger e concelebrada pelos demais bispos, onde todos colocaram diante do altar do Senhor as intenções de suas dioceses; pelo fortalecimento e êxito de uma pastoral que responda as indagações e necessidades das grandes cidades.
A última reflexão do encontro foi feita pelo professor Maurício Perez, do Ibmec-Rio. Ele fez uma análise do Mapa Completo das Religiões no Brasil da Fundação Getúlio Vargas; pesquisa organizada pelo professor Marcelo Neri. Maurício fez uma análise das fontes da referida pesquisa, assim como da ideologia que pode estar impregnada na mesma. Como leigo católico, salientou que a Igreja Católica goza de grande prestígio entre as pessoas; é preciso que ela tenha uma visibilidade maior no mundo atual, pois não basta ser bom; é preciso parecer bom. É necessário que a Igreja se apresente desta forma ao mundo. “O mundo preza hoje pela transparência e coerência; busca a verdade e aprecia cada vez mais a convicção das pessoas. Também os católicos devem seguir estes princípios. É muito importante que a Igreja divulgue seu trabalho social. O ensino nos estabelecimentos católicos tem que assumir a identidade católica, seja nas escolas que nas universidades”, sublinhou.
Após a palestra do professor Maurício, os bispos se reuniram para uma avaliação e debate sobre os temas abordados no encontro. Foi decidido que o próximo o encontro será na arquidiocese de São Paulo, no dia 21 de maio de 2012, e o segundo, no dia 12 de novembro, na cidade do Rio de Janeiro. O tema dos dois próximos encontros será: “A transmissão da fé nas grandes cidades e a Juventude”. O propósito dos bispos é dar continuidade abordando o problema da situação da Igreja nas metrópoles.
Na última parte do encontro, os bispos partilharam suas experiências pastorais em suas respectivas dioceses. O cardeal dom Odilo Scherer falou dos casais de sua diocese que se prepararam para realizar um trabalho de testemunho evangélico no seu ambiente e do relatório dos sacramentos realizados na arquidiocese de São Paulo. “O conselho de leigos tem participado ativamente da vida e da missão da Igreja. Muitos leigos foram despertados para a necessidade da missão, sobretudo nas áreas metropolitanas. Estes devem assumir com ardor sua vocação laical dentro de suas áreas de competência; respeitar a pluralidade, firmar nossa identidade e abrir-se ao diálogo”, frisou dom Odilo.
Ideia corroborada pelo bispo de Duque de Caxias (RJ) dom José Francisco. “As paróquias também devem se empenhar para ser presença marcante nas grandes cidades”, sublinhou. Dom Orani falou dos espaços destinados ao culto em condomínios e shoppings do Rio de Janeiro. Muitos destes já nascem com a presença da Igreja. Dom Joaquim Mol ressaltou a experiência do espaço evangelizador em Igrejas de Minas Gerais. Os leigos se preparam para ouvirem as pessoas e fazem uma forte experiência interpessoal nestes novos espaços. Dom Walmor enfatizou o valor do enraizamento da fé de nossos fiéis como estratégia evangelizadora. Segundo ele, “a Igreja deve se equipar para se inserir na cultura”. Essa experiência tem sido feita na arquidiocese de BH, no sentido de qualificar os leigos para entenderem e atuarem na cultura. Por fim, relatou como foi a implementação de uma identidade católica nos diversos departamentos da PUC-Minas. Dom Orani propôs que este tema pudesse ser partilhado mais ricamente entre os bispos nos próximos encontros. O arcebispo do Rio encerrou o encontro com uma oração e agradecendo a participação de todos.