Existe uma ambiguidade que caracteriza aos sinais e milagres de Jesus Cristo. Por um lado, os Evangelhos estão cheios de milagres. O caminho de Jesus está marcado por acontecimentos prodigiosos: os cegos recobram a vista, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os mortos ressuscitam. Por outro lado, Cristo é reticente com os milagres. Multiplica os sinais, mas não pretende apresentar-se como taumaturgo. Vem para trazer a salvação, não para fazer milagres. Evita todo sensacionalismo, se nega decididamente ao espetacular.
Se miramos atentamente o Evangelho, podemos dizer que existem duas coisas que são capazes de Lhe arrancar milagres: a fé dos que pedem e a miséria dos homens.
1. A fé de quem pede. Um rosto que implora com fé é um espetáculo diante do qual Cristo não pode resistir. É Seu ponto “débil”. Deixa escapar expressões de admiração: “Mulher, que grande é tua fé!” E não pode evitar realizar o milagre: “Faça-se segundo teus desejos…”
2. A miséria humana. Quando Jesus se encontra pelo caminho com a miséria, sente-se quase obrigado a regalar o milagre. Em muitos casos, nem sequer é necessário que formulem um pedido explícito. Basta a presença da dor, como por exemplo, as lágrimas de uma mãe que acompanha o sepulcro de seu único filho. E Cristo responde imediatamente. Não pode ver como os homens sofrem. Tratando-se de nós, há cristãos que querem ver milagres a todo custo.
Como se sua fé estivesse pendente, mais que da Palavra de Deus, dos milagres. Sua vida se desenvolve sob o signo do extraordinário, do excepcional, às vezes, até do extravagante. Não compreenderam que a fé é o que provoca o milagre. E não o contrário. Alteraram o procedimento de Jesus. No Evangelho aparece com claridade que o Senhor ressalta a liberdade, deixa a porta aberta, sem obrigar ninguém a entrar, sem golpes espetaculares. Ele é vencido só pela fé dos homens.
Mas existe também uma postura contrária, também fora de sintonia. São cristãos que têm medo, que quase se envergonham do milagre. Pretendem impedir que Deus seja Deus. Gostariam de aconselhar-Lhe que não é oportuno, que é melhor, para evitar complicações, deixar em paz o campo das leis físicas. Como se Deus estivesse obrigado a pedir-lhes conselho antes de manifestar Sua onipotência.
Esquecem que os milagres são a expressão da liberdade de Deus. Nossos milagres. Por cima destas atitudes diante dos milagres e sinais de Deus, está a obrigação precisa para todos nós: Cristo nos deixou a recomendação de fazer milagres. É o “sinal” de nossa fé. Mais ainda, havemos de “converter-nos” em milagres: Milagres de coerência, de fidelidade, de misericórdia, de generosidade, de compreensão.
Uma vez mais esta “geração perversa pede um sinal”. E tem direito de esperá-lo de nós, os que nos chamamos cristãos. Que sinal podemos oferecer-lhes? Que milagre podemos apresentar-lhes? Uma resposta ao mundo que nos rodeia. Nosso caminho passa por um mundo que tem fome, fome de pão e fome de amor. Um mundo enfermo de desilusões. Um mundo cego pela violência. Um mundo assolado pelo egoísmo.
Não podemos passar por esse caminho limitando-nos a contar aos demais os milagres de Jesus. Não podemos contar com seus milagres. Havemos de contar com os nossos.
O que buscam os homens deste mundo são nossos milagres de cada dia: nossos milagres de fé, de amor, de transformação, de vida cristã.
Padre Nicolás Schwizer
Movimento apostólico Shoenstat