Sempre ouvimos falar da necessidade em se buscar o Cristo, crucificado e ressuscitado. Também já ouvimos de muitos modos que o Reino de Deus está sendo construído e acontecendo no meio de nós. Na rotina do dia-a-dia estamos acostumamos a cumprir certas obrigações de cristãos como apenas irmos à missa, ou apenas a recitar algumas orações que na verdade nos ajudam em muito a encontrar a força e a coragem para um dia se não relaxarmos no zelo pelas coisas de Deus a entrarmos na pátria celeste e herdarmos a glória reservada aos eleitos do Cordeiro Jesus. Porém, a vida cristã não se delimita apenas a poucas práticas ou teorias e conhecimentos acerca de Reino de Deus, ou ainda uma dúzia de caridades que fazemos talvez pensando em nosso benefício próprio ou nos méritos que vamos receber em troca.
Aqui podemos refletir sobre a exigência urgente do chamado de Cristo neste tempo Comum na liturgia da Igreja, onde as leituras nos fazem propostas desafiadoras para despertarmos e pensarmos em outras formas e possibilidades acerca do Reino de Deus e encarnarmos os ensinamentos anunciados por Jesus Cristo em nossa vida e na vida de todos os batizados, filhos da Igreja. E a bíblia se refere: “Desperta tu que estás dormindo, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará” (Efésios 5, 14), o Reino de Deus precisa ser visto por todos nós cristãos de uma nova maneira, não apenas como meros ouvintes da palavra, mas, como fieis cumpridores do Evangelho de Cristo. Então, precisamos nos libertar da paralisia em que estamos e romper com as causas de pecados que nos impedem de sermos transformados em nossos gestos, palavras, atitudes e comportamentos.
Mediante este anúncio, algumas posições exigem de nós uma decisão e ação para atendermos e respondermos com a vida aos apelos do Reino de Deus que foi anunciado, no passado pelo próprio Jesus, e no tempo presente pela voz dos pastores da Igreja. Consequentemente, cabe à nossa responsabilidade darmos continuidade à construção desse Reino. Esse Reino permeia as atitudes humanas, o coração dos homens e mulheres que aderem à proposta de Jesus de viver e praticar a palavra de Deus encarnada na pessoa de Cristo. É assumindo uma nova mentalidade, renovando o espírito por meio do coração que procura agradar a Deus e servir o Senhor, que o Reino de Deus se concretiza. Buscando ter um coração orante e desapegando-se dos bens deste mundo, principalmente um coração despojado dos interesses pessoais e de nossas intenções corrompidas.
Amando as pessoas e não desejando vingança é que começaremos a comunicar através das nossas ações e palavras amorosas, cheias de tolerância e de perdão a transformação de nossos gestos rudes, odiosos, maldosos e preconceituosos em virtudes que encherão nosso coração de vontade, de desejo e de boas intenções em acolher o Reino de Deus que nos transforma em pessoas simples e humildes. Com isso, conseguiremos nos aproximar Deus e também aproximar cada pessoa que convive conosco em nossos lares, trabalhos, escolas, famílias e de nossa comunidade.
É preciso tornar-se como uma criança para podermos compreender essa dinâmica do Reino de Deus “Em verdade vos digo, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus” (Mateus 18, 2). É preciso nascer do alto, nascer de Deus para nos tornarmos filhos de Deus e pela graça recebida no batismo alcançarmos a maturidade de Cristo e crescermos à medida da estatura de Cristo.
Todos os homens são chamados a entrar no Reino de Deus. Anunciado primeiro ao povo Israel. Este Reino messiânico está destinado a acolher os homens de todas as nações. Para ter acesso a ele, é preciso acolher a palavra de Jesus, pois a palavra do Senhor é comparada à boa semente semeada no campo fértil; os que a ouvem com fé, acreditam e acolhem são aqueles que conseguem por em prática o evangelho e produzir muitos frutos, pois pela força de Cristo esses praticantes do Evangelho podem ser fecundados pela Palavra de Deus e fecundar muitas outras pessoas, tornando-se assim não só os receptores da PALAVRA, mas doravante os anunciadores do Reino de Cristo.
O Reino pertence aos pobres e aos pequenos, isto é, aos que o acolheram com um coração humilde. Jesus é enviado para evangelizar os pobres (Lucas 4,18). Declara-os bem-aventurados, pois o Reino dos Céus é deles (Mateus 5,3). Foi aos pequenos que o Pai se dignou revelar o seu Reino e que permanece escondido aos sábios e aos entendidos. Jesus compartilha a vida dos pobres desde a manjedoura até a cruz. Ele conhece a fome, a sede e a indigência. Mais ainda: identifica-se com os pobres de todos os tipos e faz do amor ativo para com eles a condição para entrar em seu Reino.
Jesus convida a todos à conversão. Este apelo é parte essencial do anúncio do Reino: “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Marcos 1,15). Na pregação da Igreja este apelo é feito em primeiro lugar aos que ainda não conhecem a Cristo e seu Evangelho. Além disso, o Batismo é o principal lugar da primeira e fundamental conversão. É pela fé na Boa Nova e pelo Batismo que se renuncia ao mal e se adquire a salvação, isto é, a remissão de todos os pecados e o dom da nova vida.
Jesus recomenda aos seus discípulos a pobreza de coração e que seja a preferência de nossas escolhas, pois a pobreza propõe que “renunciemos a todos os bens” por causa de Cristo e do Evangelho. Pouco antes de sua paixão, deu aos seus seguidores como exemplo a pobre viúva de Jerusalém que, de sua indigência, deu tudo o que possuía para viver. O preceito do desprendimento das riquezas é obrigatório para se entrar no Reino dos céus. O desapego das riquezas (tanto de bens, coisas ou pessoas) é necessário para entrar no Reino dos Céus, “Bem-aventurados os pobres de coração, porque deles é o Reino dos Céus” (Mateus 5, 3).
Portanto, por meio de uma vida intensa de oração, mais do que estamos habituados é que podemos discernir qual é a vontade de Deus e obter a perseverança para cumpri-la. Jesus nos ensina que entramos no Reino dos céus não por palavras, mas praticando a vontade de Deus: “Nem todo que me diz: “Senhor! Senhor!, entrará no Reino dos Céus, mas só aquele que põe em prática a vontade de meu Pai que está nos Céus” (Mateus 7,21).
Nesta urgência de transformar nossas demagogias, nossas desculpas e justificações em gestos decididos e concretos, precisamos abraçar com coragem e esforço essa prática do Evangelho que pode nos levar à construção do Reino de Deus que está de modo invisível no meio de nós, e assim vamos trazer ao visível e palpável este Reino que se confia à responsabilidade de cada cristão. Deste modo todos poderemos experimentar as delícias do banquete preparado e da presença amorosa de Deus em tudo e em todos, fazendo-nos ritmar num só coração, num só rebanho nesta vida terrena e na vida eterna. Na condição de praticantes, se formos zelosos, persistentes e perseverantes, poderemos então ouvir o Senhor nos chamar: “Vinde benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! Pois estava com fome, e me destes de comer; estava com sede, e me destes de beber; eu era forasteiro, e me recebestes em casa; estava nu e me vestistes; doente, e cuidastes de mim; na prisão, e fostes visitar-me […] Quando foi que te vimos forasteiro, e te recebemos em casa, sem roupa, e te vestimos? Quando foi que te vimos doente ou preso, e fomos te visitar? Então o Rei lhes responderá: “Em verdade, vos digo: todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes”!(Mateus 25, 34; 44-45).
“A medida do amor é amar sem medidas” (Santo Agostinho).
“Um grande amor consegue transformar coisas pequenas em coisas grandes e só ele dá valor às nossas ações; quanto mais puro se tornar o nosso amor, tanto menos o fogo dos sofrimentos terá de purificar em nós, e o sofrimento deixará de ser sofrimento para nós, convertendo-se até em delícia”. (Santa Faustina).
Deus nos dê a graça nesta caminhada de ensinamentos e aprendizagens. Tenhamos coragem e força para assumirmos nosso papel de cristãos e protagonistas do Reino de Deus. Rezemos uns pelos outros para alcançarmos a Graça do amor como um dom e assim o que pode parecer penoso, forçoso e desgastante pode se transformar em prazer em fazer a vontade de Deus, “Eis que venho, fazer com prazer, a vossa vontade, Senhor” (Salmos 39, 8-9).
Deus nos abençoe!
Seminarista Silvio Cesar Quaio
Sílvio Quaio é seminarista do terceiro ano de filosofia do Seminário João Paulo II, diocese de Marília/SP e faz estágio pastoral no Santuário Sagrado Coração de Jesus, em Vera Cruz/SP