Caríssimo Dom Osvaldo, padres, diácono, religiosos, religiosas, seminaristas, caríssimos irmãos e irmãs.
Novembro tem como ponto alto a Festa de Cristo Rei do Universo, que acontece hoje, último domingo do Ano Litúrgico. A Igreja no Brasil decidiu celebrar, juntamente com essa solenidade, o Dia Nacional dos Leigos, por compreender que a missão de leigos e leigas está intimamente ligada à difusão dos valores do Reino de Deus no mundo. Hoje também celebramos o encerramento do Ano da Fé, convocado pelo Papa Bento XVI com a Carta Apostólica “Porta Fidei”, e o lançamento do Primeiro Plano Diocesano de Pastoral.
A primeira leitura da liturgia de hoje nos apresenta o rei Davi, que depois de ter derrotado todos os inimigos, foi ungido rei sobre todo o povo de Israel. O seu reino, grande e poderoso, tornou-se o símbolo do reino universal de paz e de justiça que um dia Deus iria instaurar sobre a terra. O povo de Israel esperou durante muitos séculos pela vinda daquele que deveria dar início a este reino. O Evangelho nos apresenta a resposta de Deus a esta expectativa, uma resposta decepcionante para muitos: Jesus não foi proclamado como rei sentado num trono, mas quando estava pregado na cruz. O ponto central do Evangelho de hoje encontra-se na inscrição posta acima da cabeça de Jesus: “Este é o rei dos judeus”(Lc 23,18). Do alto da cruz Jesus indica a todos quem é o rei que Deus escolheu: é aquele que aceita a humilhação, é aquele que sabe que a única maneira de glorificar a Deus é descendo ao último lugar para servir ao próximo.
Aos pés da cruz encontramos diversas pessoas desiludidas. O povo está desiludido porque esperava um Messias que o libertasse da sua triste situação. Estão desiludidos os chefes, que esperavam um enviado do céu, com poderes para salvar Israel através de sinais e prodígios, como fez Moisés e o rei Davi. Estão desiludidos os soldados, acostumados a acreditar exclusivamente na força e na violência. Está desiludido o malfeitor, porque Jesus revela-se incapaz de atender o seu pedido de libertação do suplício. Todos estão desiludidos, menos um: o segundo malfeitor. É este o único que reconhece em Jesus o Messias esperado e diz: “Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino!” (Lc 23,42). Este segundo malfeitor não espera de Jesus uma libertação milagrosa, pede somente poder dar os últimos passos de sua vida na sua companhia, vida que foi uma sequência de erros e crimes. Jesus lhe responde: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”(Lc 23,43).
O Reino de Deus é o centro da mensagem de Jesus. Pode-se dizer que é a chave de leitura do Novo Testamento, onde a expressão aparece 123 vezes, sendo 106 nos Evangelhos, das quais 90 vezes na boca do próprio Cristo. Ao anunciar o Reino, Jesus revela o rosto do Pai misericordioso, cuja bondade não tem limites. Jesus prioriza os pobres e marginalizados, acolhe as prostitutas e faz festa quando os pecadores se arrependem. Quer que seus discípulos anunciem a boa notícia: Deus ama a todos a ponto de doar seu Filho para que nele todos sejam salvos.
Caros irmãos e irmãs, é difícil, abandonarmos a idéia de que um rei triunfa quando vence, quando derrota, quando humilha seus inimigos. Tentamos de todas as maneiras adaptar a imagem de Cristo Rei à dos reis deste mundo. Porém, devemos acreditar que Jesus triunfa no momento em que doa a própria vida. Este soberano que reina do alto da cruz nos perturba, porque exige uma mudança radical nos caminhos de nossa vida e de nossa pastoral. A Igreja é chamada, através de sua fé em Cristo Rei, Crucificado e Ressuscitado, a ser sinal desse mundo novo aqui na terra, prelúdio do Reino definitivo. Todos nós, Igreja de Jesus Cristo, por vocação e missão, devemos ir às periferias do mundo, como nos ensina o Papa Francisco, para levar a boa notícia de que Deus é Pai e quer salvar a todos.
O Concílio Vaticano II devolveu aos leigos e leigas a cidadania eclesial. Os principais documentos conciliares – Lumen Gentium e Gaudium et Spes, fundamentaram sua dignidade e conseqüente responsabilidade. O Papa Paulo VI, na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, define com muita propriedade a missão específica dos leigos e leigas quando diz: “O espaço próprio da sua atividade evangelizadora é o vasto e complicado mundo da política, da realidade social e da economia, como também da cultura, das ciências e das artes, da vida internacional, dos meios de comunicação, e outras realidades abertas à evangelização, como o amor, a família, o trabalho profissional e o sofrimento”(EM,70).
João Paulo II, em “Ecclesia in America”, é enfático quando diz: “A renovação da Igreja na América não será possível sem a presença ativa dos leigos e leigas. Por isso, compete-lhes, em grande parte, a responsabilidade do futuro da Igreja”(EA,44). O Documento de Aparecida, retoma o Documento de Puebla no seu modo de expressar o duplo âmbito em que se realiza a missão dos leigos: Os leigos e leigas são pessoas da Igreja no coração do mundo, e pessoas do mundo no coração da Igreja (cf. P,786 e DA,209).
Nossa Igreja Diocesana tem uma longa, importante e bonita caminhada evangelizadora. Há 61 anos atrás ela foi criada e instalada, por decreto do Papa Pio XII, recebendo como seu primeiro bispo Dom Hugo Bressane de Araújo. Dom Hugo começou a reforçar o presbitério com a vinda de padres religiosos, algumas ordenações, entre elas a de Pe. Achiles, Pe. Nivaldo e a inauguração do Seminário Diocesano São Pio X. Dom Frei Daniel Tomasella é ordenado bispo no dia 8 de dezembro de 1969, e alguns dias depois chega a Marília para auxiliar Dom Hugo. Dom Daniel iria marcar profundamente a caminhada pastoral e também a estrutura administrativa da Igreja diocesana. Um numeroso grupo de novos presbíteros foi surgindo e os leigos foram consolidando sua participação na Igreja, sobretudo através dos conselhos paroquiais e nos movimentos específicos de formação e mobilização do laicato.
Em decorrência da renúncia de Dom Frei Daniel Tomasella, assumiu imediatamente o governo diocesano, por direito de sucessão, o seu coadjutor Dom Osvaldo Giuntini. O terceiro bispo diocesano de Marília tomou posse no dia 9 de dezembro de 1992. Dom Osvaldo deu continuidade às iniciativas anteriores, fazendo-se assessorar pelos diversos conselhos diocesanos. Mobilizou toda a diocese para a Revisão Ampla da Pastoral e celebrou, com solenidade o Ano Santo Jubilar dos 2000 anos do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Com humildade e mansidão conquistou a amizade do clero, dos agentes de pastoral e de todo o povo. Foi Dom Osvaldo quem colocou em minhas mãos o Plano Diocesano de Pastoral, na ocasião de minha primeira visita à diocese, no dia 23 de maio deste ano.
Por isso eu vos convido a acolher este Primeiro Plano de Pastoral Diocesano. É um instrumento humilde, aparentemente fraco, porém, nascido de uma caminhada diocesana de oração e reflexão. Eu vos convido a conhecer este subsídio, a estudá-lo pessoalmente e em grupos. Gostaria que este Plano de Pastoral fosse tema de encontros nas mais diversas pastorais e movimentos da Diocese. É preciso conhecê-lo para poder colocá-lo em prática. Nos próximos três anos de caminhada, é este Plano que deverá inspirar nosso agir como Igreja de Jesus Cristo e como construtores do Reino de Justiça e de Paz. Oxalá, cada família cristã tivesse um exemplar deste Plano em sua casa. Estou convencido de que o Plano Diocesano de Pastoral, colocado em prática, poderá unir nossas três regiões pastorais, num só coração e no mesmo compromisso de fé em Jesus Cristo.
Por esta bela história de fé, quero parabenizar a todos vocês, Dom Osvaldo, padres, diácono, religiosos e religiosas, seminaristas, jovens adultos e crianças, por ser sujeitos da missão e protagonistas da evangelização. Juntamente com o Papa Francisco, no encerramento do ano da fé e no início da caminhada que será norteada pelo nosso Primeiro Plano Diocesano de Pastoral, queremos nos dirigir a Maria, feliz porque acreditou, e dizer-Lhe:
“Ajudai, ó Mãe da Igreja, a nossa Fé. Abri nosso ouvido à Palavra, para reconhecermos a voz de Deus e a sua chamada. Despertai em nós o desejo de seguir os seus passos, saindo de nossa terra e acolhendo sua promessa. Ajudai-nos a deixar-nos tocar pelo seu amor, para poder tocá-lo com fé. Ajudai-nos a confiar-nos plenamente a Ele, sobretudo nos momentos de tribulação e de cruz, quando nossa fé é chamada a amadurecer. Semeai, na nossa fé a alegria do Ressuscitado. Amém!”
Dom Luz Antônio Cipolini