Redação – (Quinta-feira, 05-06, 2014, Gaudium Press) – Como se sabe, Nossa Senhora de Fátima recomendou a devoção dos “cinco primeiros sábados de cada mês” e, em cada um deles, pediu que fosse feita a Comunhão reparadoura e a meditação de mistérios do Santo Rosário.
O Primeiro Sábado de junho coincide com as vésperas de Pentecostes. Por isso transcrevemos hoje anotações de uma meditação feita na Catedral Metropolitana de São Paulo sobre o mistério do terço que contempla a Vinda do Divino Espírito Santo sobre os apostolos reunidos no Cenáculo em companhia da Virgem Maria.
Introdução
Vamos dar início à meditação reparadora dos primeiros sábados, que nos foi indicada por Nossa Senhora, quando apareceu em Fátima em 1917. Pedia Ela que comungássemos, rezássemos um terço, fizéssemos meditação dos mistérios do Rosário e confessássemos em reparação ao seu Sapiencial e Imaculado Coração. Para os que praticassem esta devoção, Ela prometia graças especiais de salvação eterna. Amanhã, Solenidade de Pentecostes, a primeira leitura contempla a descida do Espírito Santo, conforme prometera Nosso Senhor Jesus Cristo. Ocasião propícia para que hoje meditemos o terceiro mistério glorioso.
Composição de lugar
Como composição de lugar, devemos nos imaginar reunidos no Cenáculo juntos com Maria, os Apóstolos e discípulos preparando-se para a vinda do Paráclito.
Oração Preparatória
Vinde, Espírito Santo! Enchei os corações dos Vossos fiéis e acendei neles o fogo do Vosso amor. Enviai o Vosso Espírito, e tudo será criado. E renovareis a face da Terra. Oremos: Deus, que instruístes os corações dos Vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre da Sua consolação. Por Cristo, Senhor Nosso. Amém.
Atos dos Apóstolos (2, 1-11).
” Quando chegou o dia de Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um barulho como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde eles se encontravam. Então apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava.
Moravam em Jerusalém judeus devotos, de todas as nações do mundo. Quando ouviram o barulho, juntou-se a multidão, e todos ficaram confusos, pois cada um ouvia os discípulos falar em sua própria língua. Cheios de espanto e admiração, diziam: “Esses homens que estão falando não são todos galileus? Como é que nós os escutamos na nossa própria língua? Nós que somos partos, medos e elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egito e da parte da Líbia próxima de Cirene, também romanos que aqui residem; judeus prosélitos, cretenses e árabes, todos nós os escutamos anunciarem as maravilhas de Deus na nossa própria língua. (At 2, 1-11).
I -A descida do Espírito Santo
Pentecostes era uma das festas tradicionais judaicas. Nela se ofereciam a Deus os primeiros frutos das colheitas do campo. Tratava-se de uma das três grandes festas chamadas da “peregrinação”, pois nelas os israelitas deviam peregrinar até Jerusalém para adorar a Deus no Templo. Os judeus residentes no estrangeiro utilizavam da palavra grega pentekosté – que significa quinquagésimo dia -, porque a festa era celebrada cinquenta dias depois da Páscoa.
Encontravam-se arrebatados na oração quando se fez ouvir um ruído estrondoso e um vento impetuoso. Em seguida, aparecem línguas de fogo. Segundo uma piedosa e antiga tradição, a primeira língua de fogo – a mais rica – pousou sobre a cabeça de Nossa Senhora, e a partir d’Ela se multiplicou para os outros.
Por que essas manifestações exteriores? Deus quis tornar visível o quanto era pleno o que ele entregava o ímpeto de amor, a grandeza do dom que descia. “Uma forte ventania” pode ser vista como a chegada da torrente de graças que estavam sendo derramadas sobre todos os presentes. Eram graças místicas eficazes e superabundantes que “encheram” o Cenáculo.
O fogo, feito de luz e calor, era o melhor elemento para simbolizar o ardor próprio à ação restauradora e entusiasmante do Espírito Santo. Ao pairarem sobre as cabeças de Maria e dos demais presentes, as chamas se apresentavam sob a forma de línguas de fogo. Nelas podemos ver simbolizadas as labaredas que a pregação daqueles varões suscitaria.
“Todos ficaram cheios do Espírito Santo”. De Maria a Igreja exclama: “cheia de graça” (Lc 1, 28), e de fato Ela o foi desde o primeiro instante de sua Imaculada Conceição. No Cenáculo recebe um novo acréscimo ainda maior.
Nessa passagem vemos também os Apóstolos, de acordo com suas respectivas missões, serem inundados dos mais especiais dons. Lembraram-se, então, com amor e compreensão, de tudo o que o Mestre lhes ensinara, estando prontos para percorrer o mundo pregando a Boa-nova.
A graça do Espírito Santo muda todos
Diz a leitura que naqueles dias Jerusalém estava repleta de judeus e não judeus vindos de todas as partes da Terra. Como o ruído da ventania fora ouvido por toda a cidade, diante do Cenáculo “juntou-se a multidão, e todos ficaram confusos, pois cada um ouvia os discípulos falar em sua própria língua. Cheios de espanto e admiração, diziam: ‘Esses homens que estão falando não são todos galileus? Como é que nós os escutamos na nossa própria língua?'”. E São Lucas continua: “Estavam, pois, todos atônitos e, sem saber o que pensar, perguntavam uns aos outros: ‘Que significam estas coisas?’. Outros, porém, zombando, diziam: ‘Estão todos embriagados de vinho doce'” (At 2, 12-13).
São Pedro levantou a voz e disse ao povo: “Homens da Judeia e vós todos que habitais em Jerusalém: seja-vos isto conhecido e prestai atenção às minhas palavras. Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, visto não ser ainda a hora terceira do dia” (At 2, 14-15).
Estavam ébrios, mas de uma embriaguez divina, e proclamavam a doutrina do Divino Mestre, pronunciando palavras de sabedoria, acerto, glória e repreensão. “Mas cumpre-se o que foi dito pelo profeta Joel: ‘Acontecerá, nos últimos dias…'” (At 2, 16-17). São Pedro recordou as profecias sobre Cristo e o povo as conhecia e se impressionou, abrindo os corações à conversão.
O Príncipe dos Apóstolos finalizou suas palavras, dizendo: “A este Jesus, Deus O ressuscitou: do que todos nós somos testemunhas. Exaltado pela direita de Deus, havendo recebido do Pai o Espírito Santo prometido, derramou-O como vós vedes e ouvis. Pois Davi pessoalmente não subiu ao Céu, todavia diz: ‘O Senhor disse a meu Senhor: Senta-te à minha direita até que eu ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés’. Que toda a casa de Israel saiba, portanto, com a maior certeza de que este Jesus que vós crucificastes Deus O constituiu
Senhor e Cristo” (At 2, 32-36).
São Pedro faz aqui, como Papa, a primeira proclamação de um dogma na História: o da divindade de Nosso Senhor.
“Ao ouvirem essas coisas, ficaram compungidos no íntimo do coração e indagaram de Pedro e dos demais Apóstolos: ‘Que devemos fazer irmãos?’. Pedro lhes respondeu: ‘Arrependei- vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois a promessa é para vós, para vossos filhos e para todos os que ouvirem de longe o apelo do Senhor, nosso Deus'” (At 2, 37-39).
Aqui cabe uma pergunta: Terá se convertido a maior parte dos que ouviram São Pedro? Os Atos dos Apóstolos não nos dão elementos para saber. Mencionam como vimos, os que “escarnecendo, diziam: ‘Estão todos embriagados de vinho doce'”. Assim, a mesma graça que convertia a muitos, acabava sendo rejeitada por outros.
Também não devem ter sido boas as reações dos fariseus, ao saberem desses prodígios e do início da glorificação pública d’Aquele que haviam feito crucificar.
Foram batizadas três mil pessoas. Em poucas horas, a Igreja passava a contar com mais de 3 mil membros. Era o início do apostolado em sistema de “avalanche”, que se multiplicaria quando os Apóstolos começassem a fazer milagres. Em breve iam estender a evangelização por todo o mundo antigo, e chegaria um momento em que o Império Romano inteiro estaria cristianizado.
Pedir uma nova efusão de graças
Para iniciar o terceiro milênio da Era Cristã, o Papa São João Paulo II quis publicar uma Carta Apostólica, assinada na Praça de São Pedro em 6 de janeiro de 2001. Nesse belíssimo documento, assinalamos o seguinte trecho: “Ao longo destes anos, muitas vezes repeti o apelo à Nova Evangelização; e faço-o agora uma vez mais para inculcar, sobretudo que é preciso reacender em nós o zelo das origens, deixando-nos invadir pelo ardor da pregação apostólica que se seguiu a Pentecostes. Devemos reviver em nós o sentimento ardente de Paulo que o levava a exclamar: ‘Ai de mim se não evangelizar!’ (I Cor 9, 16)”.( São João Paulo II – in “Novo millennio ineunte”, n.40.)
Eis aí indicado o caminho para que neste terceiro milênio a Igreja rebrilhe com uma luz ainda mais fulgurante que nos séculos anteriores: “reacender em nós o zelo das origens, deixando-nos invadir pelo ardor da pregação apostólica que se seguiu a Pentecostes”.
II – Conclusão
Festa do amor de Deus, Pentecostes nos traz esta mensagem: devemos ter pela Santa Igreja Católica um amor sem limites, que se traduza em interesse candente por ela, em orações em obras de apostolado. Se nós, católicos, formos assim, todos os males que afligem o mundo de hoje serão vencidos.
Assim como os Apóstolos, perseveremos com Maria Santíssima em oração, pedindo que o Espírito de Caridade nos infunda aquele amor que os abrasou: Emitte Spiritum tuum et creabuntur, et renovabis faciem terræ – Enviai, Senhor, o vosso espírito criador e será renovada toda a face da Terra (cf. Sl 103, 30).
Oração Final
Ó Espírito Santo, Divino Espírito de luz e de amor, eu Vos consagro a minha inteligência, o meu coração e a minha vontade, todo o meu ser, no tempo e na eternidade.
Que a minha inteligência seja sempre dócil, às Vossas celestes inspirações e à doutrina da Santa Igreja Católica, de quem sois guia inefável.
Que o meu coração esteja sempre inflamado de amor a Deus e ao próximo.
Que a minha vontade seja sempre conforme à vontade divina, e que toda a minha vida seja uma imitação fiel da vida e das virtudes de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, a quem com o Pai e convosco, sejam dadas honra e glória para sempre. Amém. (Consagração ao Espírito Santo – Composta por São Pio X)