Com informação – Vatican News
Em entrevista exclusiva ao Vatican News, cardeal Cláudio Hummes, relator-geral do Sínodo dos Bispos para a Amazônia e também presidente da Repam (Rede Eclesial Pan-amazônica), falou sobre como atuar o documento “Querida Amazonia”, do Papa Francisco, na realidade daquela região: “é a continuação do processo. Claro que isso tem também uma repercussão para todo o mundo, não apenas na Amazônia. Mas, de modo muito específico, o Sínodo quis tratar da realidade amazônica e da sua gente amazônica e da Igreja na Amazônia”.
Andressa Collet – Cidade do Vaticano
No final da manhã desta quarta-feira (12), em Brasília, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) promoveram uma coletiva de imprensa sobre a Exortação Apostólica e os desdobramentos no Brasil. Além do arcebispo de Belo Horizonte e presidente da CNBB, dom Walmor Oliveira de Azevedo, estava presente o cardeal Cláudio Hummes, relator-geral do Sínodo dos Bispos para a Amazônia, de outubro do ano passado, e também presidente da Repam (Rede Eclesial Pan-amazônica).
Traduzindo para a realidade da Amazônia
Em entrevista exclusiva ao Vatican News, dom Cláudio falou sobre como atuar o documento “Querida Amazonia”, do Papa Francisco, na realidade daquela região.
“É a continuação do processo, exatamente. Claro que isso tem também uma repercussão para todo o mundo, não apenas na Amazônia. É como a Laudato si’, que já tocou nos pontos fundamentais, e esse Sínodo é um fruto também da Laudato si’, não só, mas também da Laudato si’, então, isso realmente tem a ver também com toda a questão ecológica e socioambiental. Social, na questão da pobreza, a ecologia, a questão cultural, enfim, tudo isso tem a ver com a comunidade mundial inteira e com a Igreja universal em todo mundo. Mas, de modo muito específico, o Sínodo quis tratar da realidade amazônica e da sua gente amazônica e da Igreja na Amazônia. Então, nós temos que, de fato, continuar agora esse processo, voltando às bases, e, ali, começando também a construir algumas das organizações necessárias como, por exemplo, esse organismo eclesial para a Pan-Amazônia que está previsto ali para a Amazônia. Um organismo eclesial que vai, na verdade, e de alguma forma, coordenar e animar todo esse processo. Outras coisas dizem respeito, por exemplo, à questão da educação, da comunicação, que são grandes áreas que deverão ser imediatamente retomadas para ver como é que nós vamos conseguir realmente fazer uma comunicação para todo esse processo, porque a comunicação é fundamental. E quais são os instrumentos que nós temos e de que forma nós vamos poder escutar e devolver sempre de novo aquilo que vai ser no processo. Como, também, a questão da educação: de como ir educando numa Educação inclusiva e de escuta, onde esse processo todo não é uma educação de ensino, que ensina coisas, mas que vai formando convicções e vai formando práticas adequadas a toda a questão que o Sínodo se pôs.”
Os pontos de análise
Dom Claudio, então, respondeu sobre o debate gerado em relação ao celibato e a possibilidade de ordenar sacerdotes casados:
“Será difícil dizer se vai frustrar ou não frustrar. Não sei dizer isso. As pessoas que se dirão frustradas deverão dizer isso, não tem nenhuma se vai frustrar pessoas. Repito porque o Papa deixou claro que o documento todo, não alguns números sim, outros não, mas o documento todo seja levado a prática.”
A tarefa pós-sinodal
O convite de Dom Cláudio, então, reflete o mesmo do Papa Francisco para que a Igreja acolha a “Querida Amazonia” e a ponha em prática:
“Na verdade é um texto muito bonito e muito significativo, de muito conteúdo, onde o Papa, de fato, apresenta o documento e diz que a Igreja acolha o documento, que a Igreja leia o documento, que a Igreja ponha em prática. Ele diz claramente que a Igreja toda se esforce para pôr em prática esse documento final. E, por isso mesmo, ele não cita nenhum número, nenhum texto do Documento Final, exatamente pra dizer que não há textos que podem se deixar de lado – uns sim, outros não. É o texto todo que a Igreja deve procurar pôr em prática. Isso está muito claro, mas isso dentro de um processo, que também o Papa deixou muito claro, que é um processo. E, portanto, nós voltamos também com toda essa documentação – seja o Documento Final, seja a Exortação do Papa, nós voltaremos às bases para ali, de novo, começarmos junto com o povo, começar a construir esses caminhos. Como, então, construir esses caminhos agora, nesse momento do processo – um processo que teve um ponto alto, sim, no Sínodo, mas não terminou ali. É um caminho que ainda temos que percorrer, continuarpercorrendo, como a Igreja deverá fazer sempre na história.”