Escrito por CNBB
A 49ª.Assembléia Geral da CNBB, realizada em Aparecida de 4 a 13 de maio, discutiu e aprovou as novas Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil para os próximos 4 anos. As Diretrizes, aprovadas pela quase unanimidade dos bispos, indicam as grandes linhas por onde o trabalho evangelizador deverá ser orientado e expressam a vontade comum e a responsabilidade compartilhada dos Bispos pelos rumos da Igreja no Brasil.
As Diretrizes têm um significado eclesial próprio e valem, não apenas para a CNBB e para os próprios Bispos, mas devem ser levadas em conta por todas as organizações da Igreja no Brasil. Nelas repercutem fortemente as questões levantadas pela V Conferência Geral, em Aparecida, e as conclusões às quais chegou aquela Conferência do Episcopado do Continente Latino-Americano, em maio de 2007. Mas também a centralidade da Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja está bem retratada, como aparece na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Verbum Domini.
O ponto de partida imprescindível e constante da vida e da missão da Igreja é o próprio Jesus Cristo. A Igreja perde sua referência, se ela não tem Jesus Cristo e seu Evangelho sempre diante dos olhos. Vale a pena lembrar sempre de novo aquilo que o Papa Bento XVI disse na Encíclica Deus Caritas est e também no Discurso de abertura da Conferência de Aparecida: Nossa fé cristã não é resultado de um raciocínio lógico, nem também de um grande ideal moral, mas do encontro com uma pessoa – Jesus Cristo.
As Diretrizes trazem isso como ponto de partida para toda a ação evangelizadora: sem o encontro pessoal e contagiante com Jesus Cristo, não há discípulos nem missionários; e o trabalho da Igreja teria apenas a força e significado de qualquer ONG ou iniciativa humana. A Igreja não pode esquecer que é, antes de tudo, obra de Deus, que conta, certamente, com nossa constante participação e colaboração.
Em seguida, as Diretrizes ocupam-se com as “marcas” da sociedade, da cultura e da própria Igreja em nosso tempo. Várias urgências decorrem, para a evangelização, desses cenários diversificados. A Igreja precisa colocar-se em estado permanente de missão; não bastam mais os métodos tradicionais, voltados, sobretudo, para a “conservação” daquilo que já tinha sido feito; de uma pastoral de conservação, é preciso passar a uma pastoral missionária. E assim, a Igreja redescobre aquilo que é sua natureza e característica essencial: um povo enviado em missão para o meio do mundo! Somos um povo missionário; e nossas organizações eclesiais precisam traduzir isso sempre mais claramente através de uma nova prática missionária.
Mas a Igreja no Brasil não quer apenas jogar sementes ao vento: Ela quer formar discípulos, que tenham uma forte experiência de fé, a partir de um profundo encontro com Deus por meio de Jesus Cristo, no dom do Espírito Santo. Por isso, a CNBB indica como prioridade a introdução ampla de um processo de iniciação à vida cristã, por meio do qual os batizados possam tornar-se verdadeiramente discípulos de Jesus. Isso é tanto mais necessário em nossos dias, quando a fé já não é mais transmitida simplesmente pelo ambiente e pelos agentes tradicionais de comunicação da fé; a família e a escola, por exemplo, já não conseguem fazê-lo de maneira satisfatória. As comunidades cristãs, bem constituídas, precisam tornar-se sempre mais os sujeitos de uma iniciação mais completa à vida cristã, para que os batizados católicos estejam firmes na fé, enraizados em Cristo, “prontos a dar as razões de sua esperança a quem lhas pedir”.
Elemento fundamental para a iniciação à vida cristã e a formação de discípulos é a Palavra de Deus; os cristãos católicos não podem ignorar a Sagrada Escritura e só conseguirão progredir no “conhecimento de Jesus Cristo”, se tiverem constantes e ricos contatos com Deus através de sua Palavra, na Escritura e na vida da Igreja. Segundo a recomendação do Papa Bento XVI, a “animação bíblica” não deve ser objeto de mais uma “pastoral”, mas é preciso fazer a animação bíblica de toda a pastoral.
Finalmente, as Diretrizes indicam as direções para que a Igreja no Brasil seja testemunha da caridade e da esperança e, a exemplo de Jesus, se coloque a serviço da vida plena para todos: a atividade pastoral consiste em fazer como fez o Bom Pastor, que não veio para ser servido, mas para servir e para que as ovelhas tenham vida e vida plena. As novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil precisam, agora, ser assimiladas pelos nossos planos e projetos de pastoral.
Card. Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo – SP