Julho, Mês de Nossa Senhora do Carmo

A festa  de Nossa Senhora do Carmo, comemorada dia 16 de julho, prende-se intimamente à Ordem Carmelitana. A Ordem dos Carmelitas tem por propósito especial o culto da Mãe de Deus, Maria Santíssima, e pretende ter origem nos tempos do profeta Elias. Está fora de dúvida que o paganismo anti-cristão não estava sem conhecimento das  promessas messiânicas. A Mãe do Salvador vêmo-la preconizada pelas Sibilas, simbolizada pelas imagens de Isis e venerada nos mistérios pagãos. Suposto isto,causaria estranheza, se o povo de Deus, possuidor das profecias mais claras e especializadas sobre a Mãe-Virgem, a vencedora da serpente, não tivesse tido palavra, instituição nenhuma, que dissesse respeito à  Mãe do Salvador.  Não é a intenção de querer alegar os argumentos pró e contra desta piedosa opinião ou digamos mesmo, convicção dos religiosos Carmelitas.

De fato, na Ordem Carmelitana é guardada a tradição, segundo a  qual o profeta Elias, vendo aquela nuvenzinha, que se levantava no mar, bem como a  pegada de homem, teria nela reconhecido o símbolo, a figura da futura Mãe do Salvador. Diz mais a tradição, que os discípulos de Elias, em lembrança daquela visão do mestre, teriam fundado uma Congregação, com sede no Monte Carmelita, com o fim declarado de prestar homenagens à Mãe do Mestre. Essa Congregação ter-se-ia conservado até os dias de  Jesus Cristo e  existido com o Título Servas de Maria.

Santa Teresa, a grande  Santa da  Ordem Carmelitana, reconhece no profeta Elias o fundador da Ordem. As visões da bem-aventurada Ana Catarina Emerich sobre a vida de Maria Santíssima, ocupam-se minuciosamente da Congregação dos Servos de Maria, no Antigo testamento.

Segundo uma piedosa tradição, autorizada pela liturgia, no dia de Pentecostes, um grupo de homens, devotos dos santos profetas Elias e Eliseu, preparado  por São João Batista para o Advento do Salvador, abraçaram o cristianismo e  erigiram no Monte Carmelo um santuário à Santíssima Virgem, naquele mesmo lugar, onde Elias vira aparecer aquela nuvenzinha, anunciadora da  fecundidade da Mãe de Deus. Adotaram eles o nome de Irmãos da Bem-Aventurada Maria do “Monte Carmelo”.

MANIFESTAÇÃO DE NOSSA SENHORA A SÃO SIMÃO STOCK

Historicamente documentadas são as seguintes datas da Ordem de Nossa Senhora do Carmelo. Foi no século XII  que o calabrez Bertoldo, com alguns  companheiros, se estabeleceu no Monte Carmelo. Não se sabe se encontraram lá a Congregação dos  Servos de Maria ou se fundaram uma deste nome; certo é que receberam em 1209 uma regra rigorosíssima, aprovada pelo Patriarca de Jerusalém – Alberto.  Pelas  cruzadas esta Congregação tornou-se  conhecida  também na Europa. Dois nobres fidalgos da Inglaterra convidaram alguns religiosos do Carmelo, para acompanhá-los e fundar conventos na Inglaterra, o que fizeram.

Pela mesma época vivia no condado de Kent um eremita que,  havia vinte anos, habitava na solidão, tendo por residência o tronco oco de uma árvore. O nome desse eremita era Simão  Stock. Atraído pela vida mortificada dos carmelitas  recém-chegados, como também pela devoção Mariana que aquela Ordem  cultivava, pediu admissão como noviço na Ordem de Nossa Senhora do Carmo. Em 1225, Simão Stock foi eleito coadjutor Geral da Ordem, já então bastante conhecida e espalhada.

A Ordem começou a  sofrer  muita oposição, e Simão Stock fez uma viagem  para Roma.  Honório III, avisado em misteriosa visão que teve de Nossa Senhora, não só recebeu com toda deferência os  religiosos carmelitas,  mas aprovou novamente a regra da Ordem. Simão Stock visitou depois os Irmãos  da ordem no Monte Carmelo, e demorou-se com eles seis anos.

Um capítulo geral da Ordem, realizado em  1237, determinou a transferência para a Europa de quase todos os  religiosos, os quais, para se verem livres das vexações dos Sarracenos, procuraram a Inglaterra, onde a Ordem possuía já 40 conventos.

No ano de 1245, foi Simão Stock eleito Superior Geral da Ordem e a regra teve aprovação do Papa Inocêncio IV.

A Ordem de  Nossa Senhora do Carmo, colocada sob a proteção da Santa Sé, começou a ter, então,  uma aceitação extraordinária no mundo católico. Para isto concorreu poderosamente a  Irmandade do Escapulário, que deve a  fundação a  Simão Stock.

Homem de grandes virtudes, privilegiado por Deus com os  dons da profecia e dos milagres, empregou Simão Stock toda energia para propagar, na Ordem e no mundo inteiro, o culto mariano. Sendo devotíssimo a Maria Santíssima, desejava obter da Rainha celestial um penhor visível de sua benevolência e maternal  proteção.  Foi aos 16 de julho de 1251 que, estando em oração fervorosa, a renovar o pedido,  Nossa Senhora se  dignou aparecer-lhe. Rodeada de espíritos celestes, veio trazer-lhe um escapulário.  “Meu dileto filho – disse-lhe a Rainha do céu – eis o escapulário, que será o distintivo de minha Ordem. Aceita-o como um penhor de privilégio, que alcancei para ti e para todos os membros da Ordem do Carmo. Aquele  que morrer vestido deste escapulário, estará livre do fogo do inferno”.

Estando-lhe assim satisfeita a  maior aspiração, Simão Stock tratou então de divulgar a irmandade do escapulário e convidar o mundo católico a  participar dos grandes privilégios anexos.  Extraordinária foi a afluência a  tão útil instituição. Entre os devotos do escapulário de Nossa Senhora do Carmo, vêem-se Papas, Cardeais e Bispos. Numerosos tem sido os  príncipes que pediram  ser inscritos na  irmandade, como Eduardo III da Inglaterra, os imperadores da Alemanha,  Fernando I e II e  reis da Espanha, de Portugal e da França, além de muitas  rainhas e princesas de diversas nações.  O Escapulário teve uma aceitação favorável e universal entre o povo católico. Neste sentido, só é comparável ao Rosário. Como este, também teve adversários;  como o Rosário, também o escapulário tem sido agredido com todas as armas da impiedade, da malícia, do escárnio e do ódio. Mas também, como o Rosário tem experimentado o efeito poderosíssimo da proteção da Mãe de Deus;  só assim  é explicável o fato de ter o escapulário passado incólume através de  750 anos e, hoje em dia, mais  do que nunca, gozar da predileção do povo cristão.

Se bem que a visão que São Simão Stock afirma ter tido de Nossa Senhora, não possuía o valor da autoridade de artigo de fé, tão averiguada se apresenta, que desfaz qualquer dúvida que a respeito possa subsistir.

É Relatada com todas as minúcias pelo confessor do Santo, padre Swainton. Aprovada por muitos Papas, a irmandade do escapulário foi grandemente elogiada por Benedito XIV;  mais de cem escritores dos séculos 13, 14 e 15, dos quais  alguns não pertenciam à Ordem Carmelitana, se referem à visão de Simão Stock como a  um fato  que não admite dúvida. As universidades mais célebres, as  de Paris e Salamanca, declaram-se igualmente a favor.

Dois decretos da Cúria Pontifícia, exarados pelos cardeais Belarmino e de Torres, declararam autêntica e verídica a  biografia de São Simão Stock, que contém a narração da  maravilhosa visão.

PRIVILÉGIOS CONCEDIDOS PELA VIRGEM MÃE A QUEM USAR O ESCAPULÁRIO

Dois são os privilégios da irmandade do escapulário, privilégios deveras extraordinários,  que mereceram à instituição tão grande simpatia por parte do povo cristão. O primeiro desses  privilégios Maria Santíssima frisou-o bem, quando, no ato da  entrega do escapulário disse ao seu servo São Simão Stock: “É este o sinal do privilégio, que alcancei para ti e para todos os filhos do Carmelo. Todos aqueles  que estiverem revestidos  com este hábito, ver-se-ão salvos do fogo do inferno”. O sentido desse privilégio é este: Maria Santíssima prometem a  todos os que usam o hábito do Carmo, sua proteção especial, principalmente na hora da morte, que decide a  história da  humanidade. O pecador, portanto, por mais miserável que seja, pondo a  confiança em Maria Santíssima e vestindo seu hábito, tendo aliás a intenção firme de  sair do estado do pecado, pode seguramente contar com o auxílio de Nossa Senhora, a qual  lhe alcançará a  graça da conversão e da perseverança. O escapulário não é um amuleto que assegure, sob qualquer hipótese, a salvação de quem o usar. Contam-se  milhares as conversões de pecadores na  hora da morte, atribuídas  unicamente ao escapulário de Nossa  Senhora do Carmo;   muitos também são os casos que mostram à evidência, que privilégio nenhum favorece a  quem, de maneira nenhuma,  se quer separar do pecado e  levar uma vida digna e  cristã.  Santo Agostinho diz  a verdade, quando ensina:  “Deus, que nos criou sem nossa cooperação, não nos pode salvar sem que o queiramos e desejemos”.   Quem não quer deixar de ofender a Deus, morrerá na impenitência; e se Maria Santíssima não ver a possibilidade alguma de arrancar a alma do pecador aos vícios e paixões, fará com que na hora da morte, por uma casualidade qualquer, não se encontre o hábito salvador, o que se tem dado muitas vezes.

O Segundo provilégio é o tal chamado “privilégio sabatino”.  Um decreto da Santa Inquisição romana, datado de 20 de janeiro de 1613, dá aos  sacerdotes da Ordem Carmelitana autorização para pregar a  seguinte doutrina: “O povo cristão pode  crer no auxílio que experimentarão as  almas dos Irmãos e membros da Irmandade de Nossa Senhora do Carmo, auxílio este,  segundo o qual todos aqueles  que morrerem  na graça do Senhor, tendo em vida usado o escapulário, conservado a castidade própria  do estado, recitado o Ofício Parvo de Nossa Senhora, ou se não souberem ler, tiverem observado fielmente o jejum eclesiástico, bem como a abstinência nas quartas-feiras e sábados (exceto se a festa de Natal cair num destes dias), serão socorridos por uma proteção extraordinária da Santíssima virgem, no primeiro sábado que se lhe seguir  ao trânsito, por ser sábado o dia da semana consagrado a  Nossa  Senhora (Bula sabatina de João XXII.  3, III 1322)

Desse privilégio faz menção o ofício divino da Festa de Nossa Senhora do Carmo, aprovado pelo Papa clemente X e Benedito XIII.

“A bem-aventurada Virgem – diz o ofício – não se  limitou a  cumular de privilégios aqui na terra e na Ordem Carmelitana. Com carinho verdadeiramente maternal, ela, cujo poder e misericórdia em  toda parte são muito grandes, consola  também, como piedosamente se crê,  aqueles filhos no Purgatório, alcançando-lhes o mais breve possível a feliz entrada na Pátria Celestial”

Fonte: Página do Oriente