No dia 11 de Agosto, dia da primeira Missa do Padre Júlio Pereira de Souza Neto no Santuário Sagrado Coração de Jesus, a Pastoral da Comunicação realizou uma entrevista com o sacerdote.
Pascom – Padre Júlio, como surgiu sua vocação para o sacerdócio?
Padre Júlio – A minha vocação surgiu na comunidade. Diferente de alguns meninos que pensam entrar no seminário desde criança, a minha vocação nasceu de ver o trabalho pastoral do Padre. Também surgiu a partir do momento em que eu, depois da catequese de Crisma, ingressei nos Vicentinos, na Renovação Carismática Católica, exerci o ministério extraordinário da eucaristia, participei da pastoral carcerária, visitava os doentes e os mais pobres em Junqueirópolis. Todo esse volume de coisas, juntamente com o testemunho de bons padres que tivemos lá em Junqueirópolis, e a possibilidade de eu vê-los falando e desejando estar no lugar deles pregando, arrebanhando as pessoas, surgiu meu despertar. Lembro-me que, participando dos vicentinos, com aproximadamente 14 anos, eu pensava em me tornar sacerdote. Porém era algo muito vago e tinha outras preferências: trabalhar, ajudar minha família, arrumar um bom emprego, ganhar bem. Contudo, ao mesmo tempo eu via, mas muito de longe, a possibilidade de me tornar padre. Com a participação da vida em comunidade, frequentando encontros, retiros, minha vocação foi se aprofundando. Todo final de ano era motivo para eu repensar a minha vocação, meu chamado. Graças a Deus tive a oportunidade de trabalhar bastante em Junqueirópolis. Contudo, percebia que existia um trabalho muito maior do que aqueles que eu executava. Acho que Deus foi me falando na medida em que eu trabalhava na comunidade. Tive uma vocação mais adulta. Lembro-me do primeiro retiro vocacional que fiz em Tupi Paulista. O Padre Sérgio me dizia: ‘Quer fazer um encontro vocacional?’. E eu tremia, pois ao mesmo tempo em que eu queria, tinha muito medo. Fui também a encontros vocacionais com o Padre Beloto, que na época era padre e hoje ele é bispo da nossa diocese irmã (Formosa). Foi com ele que fiz meus primeiros encontros vocacionais da diocese de Marília e foi com ele que decidi entrar no seminário.
Pascom – E os oito anos de estudos no seminário, como foram?
Padre Júlio – Fiz um ano de Propedêutico. Foi um ano mais calmo, tranquilo, de iniciação, em que pude conhecer e adentrar ao mundo da Igreja. Tive as primeiras matérias religiosas, como latim, introdução às Sagradas Escrituras e algumas matérias que deram o início àquilo que estudaria mais tarde. Também foi um ano de muita reflexão, graças a Deus. Já a Filosofia foi um curso mais árduo. Antes de entrar no seminário, tive oportunidade de fazer faculdade, mas não fiz porque antevia minha vocação e sempre pensava em entrar no seminário. Fiz curso técnico de Contabilidade. A filosofia foi um curso muito bom, puxado e necessário ao mesmo tempo. Foram três anos em que aprendi as bases deste curso, e hoje sou bacharel em Filosofia depois desses anos na Faculdade João Paulo II. Neste curso pude ver o quanto nós podemos ser iludidos e ao mesmo tempo o quanto nós podemos fazer com a ‘palavra’. Podemos falar bem, mas ao mesmo tempo a palavra pode ser deturpada. Vimos os estudos dos primeiros oradores, os filósofos, os sofistas. Esse curso, para mim, foi um período importante em que pude me conhecer melhor. Lá os seminaristas podem ter encontros com a psicóloga do seminário e eu pude me colocar diante dela, como realmente eu era. Pude ver minhas dificuldades e aquilo que precisava trabalhar melhor em mim. Nesta época, foram duas vertentes. A primeira, a parte intelectual. Era aquilo que precisávamos saber, estudar e conhecer. Sabia que era importante, pois a filosofia nos dá uma base para a Teologia. A segunda vertente, foi o meu autoconhecimento: como é o Júlio? O que tem esse ser humano? No que esse Júlio pode amadurecer e crescer? Foi um tempo bom, contudo foi dificultoso, sendo característica própria do curso de Filosofia. Mas foi um tempo em que eu cresci muito. Depois, a Teologia durou mais quatro anos. Estudamos aquilo que mais gostamos: as coisas da Igreja e de Deus. A Teologia não deixa de ser um curso com suas dificuldades e foi uma época boa. A gente sai da faculdade sabendo que a gente pouco sabe. Depois de ter passado pela faculdade de Teologia, vejo que temos que retomar tudo aquilo que aprendemos. O Padre é chamado a uma formação permanente. O Padre Zezinho diz: “Aquele que quer falar bem, não pode se atrever a falar sem antes ficar muito tempo em silêncio”. A Teologia ensina a ficar em silêncio diante de Deus para O ouvirmos e também nos dá as bases das Sagradas Escrituras, da tradição da Igreja e aquilo que a Igreja ensina como verdade. Ao mesmo tempo, o principal, que são a espiritualidade e a vida de oração, faz com que tudo isso frutifique e dê bons frutos na vida das pessoas e da Igreja.
Pascom – Padre Júlio, no momento em que você estava se sagrando sacerdote, o que passava pelo seu íntimo? O que você pensava neste momento tão especial?
Padre Júlio – Acho que na ordenação diaconal estava mais tenso. Na ordenação sacerdotal estava tranquilo, muito feliz e ao mesmo tempo emocionado. Aliás, foram vários momentos em que me emocionei. Um deles, especialmente, foi durante a hora da prostração, em que a gente se prostra e pede o auxílio de Deus, de Seus Santos e Mártires. E, naquele momento, deitado sobre o tapete, me vinham na cabeça todos aqueles que deram a vida pela Igreja, derramando sangue por Jesus. Emocionei-me naquela hora, pois sabia que estava me unindo a todos eles e a todos que testemunharam Deus e que vieram bem antes de nós. Ali estava me unindo mais concretamente, de uma maneira mais forte a todos eles. Nesta hora, pedia forças para Deus, para ter a sabedoria de testemunhar, como esses Santos, que deram a vida por Jesus e pela pregação do evangelho. Pedia forças naquele momento e confesso que chorei. Depois, houve um silêncio profundo na Igreja, na hora em que o bispo põe a mão sobre nós e faz uma oração. Eu não ouvia nada, pois estava de olhos fechados e sabia que eles estavam rezando. Posteriormente, os padres, cada um deles, colocava as mãos na minha cabeça e a partir daquele momento sabia que me tornava sacerdote para sempre. Isso é algo que mais nos toca e nos passa uma grande responsabilidade: ser padre para sempre. Então, me passava alegria, ao mesmo tempo muita emoção e a responsabilidade de estar unido à Igreja e a todos aqueles que já foram testemunhos de Cristo. Naquele instante eu fazia um pedido: ser fiel, pois, como disse no meu agradecimento, somos como vasos de barro e trazemos um grande tesouro. O vaso é frágil e temos que ter muito cuidado conosco e revelar esta graça de Deus em nós. Foi uma graça muito grande e já dizia que não era digno, mas Deus nos chama mesmo assim.
Pascom – Você foi unânime. Toda comunidade daqui de Vera Cruz gostou muito de você e sentiu muita segurança na sua pessoa. Aproveite e mande uma mensagem para a comunidade de Vera Cruz.
Padre Júlio – Eu me sinto acolhido pelo Sagrado Coração de Jesus. Aliás, a equipe de canto que participei em Junqueirópolis, se chamava Sagrado Coração de Jesus. Percebo que o Coração de Jesus me acompanha desde muito tempo. E tantas vezes a gente repete aquela jaculatória “Jesus manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao vosso”. Do fundo do meu coração, senti muito bem acolhido aqui, quando cheguei neste Santuário muito bonito e imponente. As pessoas daqui são simples em sua maioria, mas possuem um coração muito grande e que veem, na pessoa do padre, aquele que foi escolhido por Deus. Tive um respeito muito grande pelas pessoas, como Diácono, e pude perceber também um carinho por mim. Pude perceber também o zelo desta comunidade com seus padres, Maurício e Nivaldo. Aqui, pude participar de uma data tão importante, que foi os 60 anos de sacerdócio e 90 anos de idade do Padre Maurício Pillon. Isso foi um marco na vida dele e que ficou para a história deste Santuário. Gostei muito desta experiência de estar com a pessoa do Padre Maurício. Ele é testemunha de fé, e nunca vi ele reclamando de nada, nem de dor, nem de cansaço. Para mim, isto é algo que me torna exemplo. E o Monsenhor Nivaldo, uma pessoal incansável, que corre para lá e para cá, vai a reuniões, atende na casa paroquial. Também é espelho para mim. Vi o testemunho daqueles que já são padres há muito tempo. Eu louvo a Deus por ter passado por aqui. Ao mesmo tempo, é de se admirar a presença dos jovens. Eles se sentem muito a vontade com os padres. Fiquei muito admirado ao ver os cantores, o grupo de jovens. Com a presença do seminarista Silvio, pude dar uma pequena contribuição. Senti-me amado pela juventude e por toda comunidade. Gostaria de agradecer a toda comunidade de Vera Cruz. Ainda não sei para onde vou, mas tenho a certeza de que os levarei comigo, no meu coração, na minha vida. Fui muito feliz aqui como diácono e não sei se ficarei aqui ou se irei para outra paróquia. Mas fica registrado aqui meu profundo louvor a Deus e o agradecimento a toda comunidade por me sustentar, por rezarem por mim, por confiarem no trabalho e por me levarem até o sacerdócio. Colocarei sempre vocês nas minhas orações e, diante do Coração de Jesus, e da Eucaristia, rezarei por esta comunidade. Foi aqui que eu ingressei no ministério, como diácono, primeiro grau da ordem. Vocês me ensinaram a servir. Que Deus vos abençoe!