SÃO JERÔNIMO, célebre na Igreja pela virtude, pelo rigor e ciência, nasceu no ano de 331, em Stridônio, perto de Aquileja e receneu uma sólida educação, segundo os princípios da Religião de Cristo. O pai Eusébio era rico e piedoso.
Jerônimmo desde pequeno revelou um talento privilegiado e muita propensão para a vida ascética. Moço ainda, foi para Roma, com intuito de continuar os estudos e rápidos progessos fez, sob a direção do mestre Donato, que era pagão.
Costumava visitar todos os Domingos os túmulos dos Santos Mártires. A ciência pode mui facilmente ser um perigo para o homem. Esta verdade experimentou-a Jerônimo, o qual, vendo-se tão avantajado entre os condiscípulos, se encheu de orgulho e vaidade. Por uma graça especial divina, não enveredou pelo caminho do pecado. A conversão de Jerônimo começou com a compreensão das coisas divinas e com o santo batismo, para o qual se preparou com todo o fervor. Fez o firme propósito de fugir de tudo o que pudesse roubar-lhe a graça batismal. No desejo de ampliar e aprofundar seu saber, visitou todas as escolas maiores da França, e chegou a Trèves, onde existia uma das escolas mais célebres, fundação do Imperador Graciano. Foi lá que Jerônimo abandonou as ciências profanas, para se dedicar mais à vida religiosa; nesta ocasião fez o voto de castidade perpétua. Em 370 entrou para um convento em Aquileja, onde escreveu algumas obras. Em Roma conheceu o célebre Evrágio.
Para satisfazer um desejo íntimo de viver na solidão, resolveu fazer uma viagem ao Oriente, onde, em companhia de Evrágio e de alguns amigos, visitou diversos eremitas.
De Antióquia dirigiu-se ao deserto de Chaltis. Num tratado que escreveu sobre a virgindade, fala das horríveis tentações que o incomodavam, provocadas pela lembrança das festas e divertimentos a que assistira em Roma. Para debelá-las, praticou severas penitências e começou o estudo da língua hebraica, que oferecia grandes dificuldades. Além do hebraico, cultivava o grego e o caldaico.
Muitos aborrecimentos teve por causa de alguns hereges e apóstatas que o perseguiam, a ponto de se ver obrigado e deixar a solidão e voltar para Antióquia onde, das mãos do Patriarca Paulino, recebeu a ordenação sacerdotal.
De Antióquia fez uma romaria aos Santos Lugares e escolheu Belém para sua residência. Durante o tempo que lá morou, se dedicou ao estudo bíblico.
No ano de 381, a convite do Patriarca Paulino, fez com este uma viagem a Roma, onde ficou até a morte do Papa Dâmaso, que o escolhera para secretário particular.
O modo enérgico com que verberavca a vida dissoluta de muitos cidadãos romanos, criou-lhe inimigos até entre o próprio clero. Voltou outra vez para Belém, onde continuou os trabalhos científicos. Lá fundou um mosteiro para homens, que ele mesmo dirigiu, e outro para mulheres, cuja alma eram duas damas romanas, Santa Paula e Santa Eustóquia. Em diversas ocasiões teve de terçar armas contra os Pelagianos, Luciferianos, Originistas e outros hereges.
Em 410 vieram ao Oriente diversas famílias romanas, em procura de um asilo, visto que Roma tinha sido tomada por Alarico. Jerônimo comoveu-se muito com a triste sorte dos pobres foragidos e tudo fez para suavizar-lhes os sofrimentos e melhorar-lhes a penosa situação.
Foi nesse tempo que Jerônimo completou a célebre tradução dos livros do Antigo Testamento, do grego para o latim, tradução chamada “Vulgata”, que a Igreja adotou como versão oficial dos santos livros. Acontece que sua residência e alguns conventos que administrava fossem atacados e destruídos por bandos de Pelagianos. Não obstante, Jerônimo deixou-se ficar em Belém, onde continuou os estudos e trabalhos bíblicos que lhe imortalizaram o nome na Igreja Católica. Rodeado de inimigos e por eles continuamente perseguido, gozava da estima dos bons cristãos, que nele tinham um verdadeiro pai e defensor.
Jerônimo morreu no dia 30 de setembro de 420 na idade de 90 anos. As relíquias foram mais tarde trasladadas para Roma, onde repousam junto ao presépio de Nosso Senhor na Basílica de Santa Maria Maior. Santo Agostinho, discípulo e amigo íntimo de São Jerônimo, compara o mestre com São Paulo, igualando-lhe o zelo apostólico e amor a Jesus Cristo aos do grande Apóstolo. São Jerônimo é um dos quatro grandes Padres da Igreja do Oriente.
REFLEXÕES –
E na seqüência, notas sobre a “Nova Vulgata”
Nós, da equipe da Página Oriente, não poderíamos deixar de fazer alusão, neste dia de São Jerônimo, ao que consideramos o fundador deste portal, Carlos Mariano de Miranda Santos, que entregou a alma a Deus no dia 03 de setembro de 2007, mês da Bíblia. Ao sugerirmos uma frase para ser posta na página principal para este mês ele, já enfraquecido pelo estado terminal em que purificava a alma, balbuciou o que seriam suas últimas palavras: “A Vulgata de São Jerônimo, pela sua pureza, é a verdadeira Palavra de Deus”.
Devotíssimo de Maria Santíssima, Carlos Mariano dedicou os último 30 (trinta) anos de vida ao intenso estudo das Sagradas Escrituras. Deus agraciou-o, levando-o para a eternidade no mês da Bíblia. Dizia ele que, tanto mais se estuda a Bíblia, tanto mais apaixonado se torna o homem por ela. Nutria intensa devoção a São Jerônimo. Era a Vulgata, era seu livro de cabeceira. Até o dia que declinou sua saúde, permaneceu em tempo integral, estudando, compilando, comparando e digitando a Bíblia Sagrada. Digitou linha por linha, primeiramente o Novo Testamento e partiu na seqüência para o Antigo. Conduzindo-o a doença coercitivamente ao leito de morte, quando concluía o Livro dos Reis, sempre buscou nesse trabalho, aproximar-se ao máximo da versão oficial da Vulgata de São Jerônimo, recorrendo à versão latina e especialmente à obra da Vulgata traduzida pelo Padre Antônio Pereira de Figueiredo, atualizando o português, haja vista sua publicação original ter-se consumado no final do século XVIII, onde muitos termos da língua vernácula tornaram-se obsoletos, ora pelo desuso, ora pelas mudanças gramaticais. Os filhos continuam atualmente a digitação dos Livros restantes para que possa ser publicada futuramente, conforme a vontade do fundador, gratuitamente em nosso portal, através de publicação on-line e software eletrônico que está sendo elaborado em nossa redação, com a melhor tecnologia que pudermos empregar.
Defensor constante da Igreja Católica, vigiava com atenção as discrepâncias observadas nas traduções atuais da Bíblia, citando, inclusive, em seu livro (Livro Oriente – 1998), a advertência a respeito, que fez um famoso pastor protestante convertido ao catolicismo:
“Por conclusão, a Palavra de Deus não pode ser alterada a bel-prazer, como se vem observando nas traduções bíblicas desde algumas décadas. Chegamos ao limite, de sermos advertidos para “que se tenha uma BOA VERSÃO BÍBLICA. Quanto mais antiga melhor. Se possível editada antes de 1960”. Esta advertência (ignorada pelas “diretrizes”) que não somente eu, mas todo católico esclarecido assina por baixo, deve-se ao diácono Francisco de Almeida Araújo no seu “livrete”: EM DEFESA DA FÉ.”
A fidelidade ao original de São Jerônimo nos primeiros capítulos da Bíblia, para ele, trazia não mera contraposição entre o texto grego ao latino, como o quiseram fazer crer muitos teólogos da atualidade, mas a inspiração do Espírito Santo, de quem Maria é Esposa. A origem dos estudos bíblicos que fez, intensificava-se na proporção em que detectava movimentos sutilmentes malignos, cujo escopo era deturpar a Palavra de Deus, e concomitantemente tirar de foco a Mulher que por Deus foi incumbida em esmagar a cabeça de Satanás no final dos tempos.O principal deles, alude à passagem original de São Jerônimo, recentemente desfigurada por teólogos modernos: “Porei inimizades entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela. Ela (PRÓPRIA) te esmagará a cabeça e tu armarás traições ao seu calcanhar – Inimicitias ponam inter te et mulierem et semen tuum et semen illius; IPSA conteret caput tuum et tu insidiaberis calcaneus eius” – (Cf. Gen III, 15).
O IPSA (Ela própria) , as traduções luteranas adulteraram para IPSE (Ele) já desde os idos da reforma luterana. Ação pior, porém, viria a ocorrer nas últimas décadas, onde muitas edições católicas contemporâneas apelaram para a forma neutra – IPSUM, onde o leitor fica à vontade para escolher o que melhor lhe convier – Ele, Ela, este, esta – seja ele católico, luterano, evangélico, enfim, de qualquer denominação cristã. Fatos que, para quem conheceu a personalidade e as convicções católicas de Carlos Mariano, suscitavam justificadamente sua irritação diante da maldade sutil daqueles que perpetravam manobras absolutamente inteligentes, visando atingir o calcanhar de Nossa Senhora, cumprindo-se neles a profecia contida exatamente naquele trecho. Nossa Senhora, a Nova Eva, Imaculada, sem pecado original, designada por Deus a esmagar a cabeça da serpente, foi tirada de cena, num ato de violência perpetrada por protestantes e também “católicos inovadores”, em aberta oposição à tradução de São Jerônimo, tudo em nome de um “ecumenismo” voltado à uma falsa política da boa vizinhança, onde a invasão mútua de território trouxe por conseqüência a contaminação da Palavra de Deus pelas aludidas adulterações.
“O magnificente Santo Agostinho, discípulo e amigo de São Jerônimo, não se furtou em compará-lo com São Paulo, igualando-lhe o zelo apostólico e amoroso a Jesus Cristo. É a São Jerônimo, que nasceu para a eternidade no ano de 420, que se deve o coerente e significativo “Ipsa conteret – Ela própria esmagará” (Cf. Gen. III, 15). É Maria Imaculada, por determinação de Jesus, que pisa a cabeça maligna, co-responsável pela queda de Eva no paraíso. São Jerônimo viu com clareza meridiana, que a justiça, quer Divina, quer terrena, requeria o soerguimento da mulher decaída, pois quem prevaricou foi Eva e infeliz, induziu Adão. A nova Eva, a Mulher forte Maria, teria que reparar a fraqueza da antiga Eva”.
Outras adulterações lhe causavam a mesma irritação, pela deturpação advinda pelo conluio de lideranças. Pressões das quais o Papa não será responsabilizado no dia do Juízo, caso venha a ceder às nossas pressões, aludindo a “dureza do coração humano”, citada por Jesus quando o povo quis responsabilizar Moisés por ter conferido carta de divórcio ao povo:
“Por outro lado, a maioria das Bíblias atuais, sejam católicas, sejam protestantes, após um conluio de lideranças, num inequívoco jogo de compadres e comadres, concluíram “por bem”, substituir o termo “SACRAMENTUM” por “MYSTERIUM”, dentre outras adulterações, com a finalidade de provarem ao mundo que a Igreja não é tão radical quanto propalam. Moisés, sentiu na carne as mesmas pressões e acabou por ceder, dando ao povo judaico o “libelo de repúdio”. Jesus condenou a Moisés, por essa aparente fraqueza? Absolutamente. Vejamos o que diz Jesus: “Porque Moisés, por causa da DUREZA DO VOSSO CORAÇÃO, permitiu-vos repudiar vossas mulheres; mas no PRINCÍPIO não foi assim” (Cf. Mt XIX, 8). Se Jesus não condenou Seu profeta, muito menos há de condenar o Seu Representante na terra;”
CONSIDERAÇÕES SOBRE A “NOVA VULGATA”
A Bíblia Oficial da Igreja Católica, continua sendo, até os dias atuais, a Vulgata de São Jerônimo. Por ocasião do Concílio Vaticano II, o Papa Paulo VI estabeleceu uma comissão especial, por mandato do Concílio Ecumênico Vaticano II, com a finalidade de revisar as diversas traduções bíblicas, para facilitar um texto que pudesse facilitar os estudos bíblicos, especialmente onde fosse difícil as consultas em bibliotecas especializadas. Em 22 de dezembro de 1977, o Papa Paulo VI assim expressou-se aos cardeais e prelados da Cúria Romana:
“Se pensa em um texto – acrescentamos – que respeite a letra da Vulgata de São Jerônimo, quando este reproduz fielmente o texto original, tal como resulta das atuais edições científicas; será prudentemente corrigido quando se aparte dele ou não interprete corretamente, empregando com efeito, a língua da latinitas bíblica cristã, de forma que se harmonizem o respeito às tradições e as sãs exigências críticas do nosso tempo.” (AAS 59, 1967, págs. 53 ss.).
O Santo Padre, o Papa Paulo VI partiu para eternidade antes que os trabalhos fossem finalizados. Eleito ao Pontificado, de curta duração, o Papa João Paulo I exprimiu que a Pontifícia Comissão enviasse o texto para revisão dos bispos que estavam reunidos em Puebla, mas faleceu em seguida. Assumindo o Papa João Paulo II, ao receber os textos com todas as revisões e interposições, nestes termos a promulgou:
“Assim, pois, a obra que tanto desejou Paulo VI e não pôde ver terminada, a que prosseguiu com tanto interesse João Paulo I, que havia determinado que o volume dos Livros do Pentateuco, revisados pela mencionada Pontifícia Comissão, se enviaram como obséquio aos bispos que se haviam de reunir na cidade de “Puebla”, e que nós mesmos temos esperado com muitos outros no todo orbe católico, nos satisfazemos em entregá-la agora, já editada à Igreja”.
“Portanto, em virtude desta Carta, declaramos e promulgamos edição “típica” a Nova Vulgata (grifo nosso), sobretudo para seu uso na sagrada liturgia, mas também, como dito, para outras finalidades”.
Verifica-se, assim, que o Papa João Paulo II não a promulgando como edição oficial, mas como edição “TÍPICA” (que serve de tipo, característico, alegórico, simbólico), deixa-nos claro que a Bíblia oficial continua sendo, para toda a Igreja, a Vulgata de São Jerônimo.