O Papa João Paulo II
e o Escapulário do Carmo
É freqüente até ver jovens usando o escapulário ao pescoço. Todos têm uma vaga noção de que Maria protege, de forma especial, aqueles que o portam. Mas conhecerão, também, o profundo e belo significado do escapulário do Carmo?
Numa carta aos Superiores da ordem do Carmo, S.S. João Paulo II, que também usa o escapulário, explica admiravelmente o simbolismo desta importante devoção mariana, que nossa Campanha também divulga:
“No símbolo do Escapulário – afirma João Paulo II – se evidencia uma síntese eficaz de espiritualidade mariana, que aumenta a devoção dos fiéis, tornando-lhes sensível a presença amorosa da Virgem Mãe em suas vidas. O escapulário é, essencialmente, um “hábito”.
Quem o recebe fica agregado ou associado, num grau mais ou menos íntimo, à Ordem o Carmo, dedicada ao serviço da Virgem Maria, para o bem de toda a Igreja.
Quem veste o Escapulário é, portanto, introduzido na terra do Carmelo, para que “coma de seus frutos e bens” (cf. Jer 2,7), e experimente a presença doce e materna de Maria, no compromisso cotidiano de se revestir interiormente de Jesus Cristo, e de o manifestar vivo, em si próprio, para o bem da Igreja e de toda a humanidade.
Duas são, portanto, as verdades evocadas no símbolo do Escapulário: de um lado a proteção contínua da Santíssima Virgem, não só ao longo do caminho da vida, mas também no momento da passagem para a plenitude da glória eterna; de outro lado, consciência de que a devoção a Ela não pode se limitar a orações e obséquios em sua honra em algumas circunstâncias, mas que deve constituir um “hábito”.
Isto quer dizer: uma textura permanente da própria conduta cristã, tecida de oração e de vida interior, mediante a prática freqüente aos Sacramentos e o exercício concreto das obras de misericórdia espirituais e corporais.
Deste modo, o Escapulário se converte em símbolo de “aliança” e de comunhão recíproca entre Maria e os fiéis: de fato, traduz de modo concreto a entrega que Jesus, do alto da cruz, fez a João, e nele a todos nós, de sua Mãe; e a entrega do apóstolo predileto e de nós a Ela, constituída como Mãe espiritual.
“Também eu levo sobre meu coração, há tanto tempo, o Escapulário do Carmo. Pelo amor que tenho à celestial Mãe, cuja proteção experimento continuamente, auguro que este ano mariano ajude a todos os religiosos e religiosas do Carmelo, e a todos os piedosos fiéis que a veneram filialmente, para crescer no seu amor e irradiar no mundo a presença desta Mulher do silêncio e da oração, invocada como Mãe da misericórdia, Mãe da esperança e Mãe da graça.”
Carta do Papa João Paulo II Sobre o Escapulário
Ninguém desconhece o grande amor de João Paulo II para com Nossa Senhora. No caso de Nossa Senhora do Carmo, como já havia feito anteriormente, ele reafirmava que, desde a infância, usava o escapulário. Essa confissão, esse testemunho de um Papa, nos faz perceber como este “Sacramental”, este sinal visível de amor a Maria, é muito estimado pela Igreja e pode ser um meio de forte evangelização. Não podemos deixar de lado os sinais exteriores, pois fazem parte do patrimônio de nossa fé.
A carta do Papa é riquíssima e vale a pena lê-la, atento aos seguintes pontos:
1) não faz nenhuma referência ao privilégio sabatino;
2) apresenta o escapulário como patrimônio de toda a Igreja;
3) sinal de amor a Maria;
4) chamados a viver suas virtudes;
5) duas vertentes de espiritualidade;
6) o Papa mesmo o usava.
750 anos do Santo Escapulário
Carta: Aos Reverendíssimos Padres: Joseph Chalmers (Prior Geral da Ordem dos Irmãos da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo – O. Carm.) e Camilo Maccise (Prepósito-Geral da Ordem dos Irmãos Descalços da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo (O.C.D.).
O providencial evento da graça, que foi para a Igreja o ano Jubilar, a induz a olhar com fé e esperança o caminho apenas iniciado do novo milênio. “Nosso caminhar, no principio deste novo século – escrevi na carta apostólica Novo Millennio ineunte – deve fazer-se mais rápido… Acompanha-nos neste caminho a Santíssima Virgem, à qual… confiei o terceiro milênio” (n.58).
Com profundo gozo soube portanto que a Ordem do Carmo, em seus dois ramos, antiga e reformada, quer expressar seu próprio amor filial para com sua Patrona, dedicando o ano de 2001 a Ela, invocada como Flor do Carmelo, Mãe e Guia no caminho da santidade. A este respeito, não posso deixar de sublinhar uma feliz coincidência: a celebração deste Ano Mariano para todo o Carmelo acontece, segundo nos transmite uma venerável tradição da mesma Ordem, no 750º aniversário da entrega do Escapulário.
É conseqüentemente uma celebração que constitui para toda a Família Carmelitana uma maravilhosa ocasião para aprofundar-se não só em sua espiritualidade mariana, mas para vivê-la cada vez mais, à luz do posto que a Virgem Mãe de Deus e dos homens ocupa no mistério de Cristo e da Igreja e, portanto, para seguir a Ela que é a “Estrela da evangelização” cf. Novo Millennio ineunte, n.58).
As distintas gerações do Carmelo, desde as origens até hoje, em seu itinerário até a “santa montanha, Jesus Cristo Nosso Senhor” (Missal Romano, coleta da Missa em honra da B.A.V. Maria do Monte Carmelo, 16 de julho), trataram de plasmar a própria vida sobre o exemplo de Maria.
Por isso no Carmelo, e em toda alma movida por um terno afeto até a Virgem e Mãe Santíssima, floresce a contemplação da que, desde o princípio, soube estar aberta à escuta da Palavra de Deus, e obediente à sua vontade (Lc 2,19.51). Maria, de fato, educada e plasmada pelo Espírito (cf. Lc 2,44-50), foi capaz de ler na fé sua própria história (cf. Lc 1,46-55) e, dócil à inspiração divina, “avançou na peregrinação da fé e manteve fielmente sua união com o Filho até a cruz, junto à qual, não sem um desígnio divino, se manteve erguida (cf. Jo 19,25), sofrendo profundamente com seu Unigênito e associando-se com entranhas de mãe a seu sacrifício” (Lúmen gentium, 58).
A contemplação da Virgem é apresentada enquanto, como Mãe primorosa, vê crescer seu Filho em Nazaré (cf. Lc 2,40-52), segue-lhe pelos caminhos da Palestina, assiste-o nas bodas de Caná (cf. Jo 2,5) e, aos pés da Cruz, se converte na Mãe associada a seu oferecimento, doando-se a todos os homens na entrega que o mesmo Jesus faz dela a seu discípulo predileto (cf. Jo 19,26). Como Mãe da Igreja, a Virgem Santa está unida aos discípulos “em contínua oração” (At 1,14) e, como Mulher nova, antecipa em si o que realizará um dia em todos nós, com a plena fruição da vida trinitária é elevada ao Céu, de onde estende o manto de proteção de sua misericórdia sobre os filhos que peregrinam até o monte santo da glória. Tal atitude contemplativa da mente e do coração leva a admirar a experiência de fé e de amor da Virgem, que já vive em si o que todo fiel deseja e espera realizar no mistério de Cristão e da Igreja (cf.Sacrosanctum Concilium, 103; Lumen gentium, 53). Justamente por isto, os carmelitas e as carmelitas elegeram Maria como sua Patrona e Mãe espiritual e a têm sempre ante os olhos do coração, a Virgem Puríssima que guia todos ao perfeito conhecimento e imitação de Cristo.
Floresce assim uma intimidade de relações espirituais que incrementam cada vez mais a comunhão com Cristo e com Maria. Para os membros da Família Carmelitana, Maria, a Virgem Mãe de Deus e dos homens, não é somente um modelo para imitar, mas também uma doce presença de Mãe e Irmã na qual confiar. Com acerto, santa Teresa de Jesus exortava: “Imitai a Maria e considerai que tal deve ser a grandeza desta Senhora e o bem de tê-la por Patrona” (Castelo interior,III,I,3).
Esta intensiva vida Mariana, que se expressa em oração confiada, em entusiasmado elogio e diligente imitação, conduz a compreender como a forma mais genuína da devoção à Virgem Santíssima, expressa pelo humilde sinal do Escapulário, é a consagração ao seu Coração Imaculado (cf. Pio XII, Carta Neminem profecto latet [11 de fevereiro de 1950: AAS 42, 1950, pp. 390-391]; Const.Dogm. Sobre a Igreja Lúmen Gentium, 67). Desse modo, no coração se realiza uma crescente comunhão e familiaridade com a Virgem Santa, “como nova maneira de viver para Deus e de continuar aqui na terra o amor do Filho Jesus à sua mãe Maria” (cf. Discurso do Ângelus, em Insegnamenti XI/3, 1988, p. 173). Se nos põe assim, segundo a expressão do Beato mártir carmelita Tito Brandsma, em profunda sintonia com Maria, a Theotokos, convertendo-nos como Ela em transmissores da vida divina: “Também a nós nos manda o Senhor seu anjo… também nós devemos receber a Deus em nossos corações, levá-lo crescer em nós de modo tal que ele nasça de nós e viva conosco como o Deus-conosco, o Emanuel” (Da relação do B. Tito Brandsma ao Congresso Mariológico de Tongerloo, agosto, 1936).
No sinal do Escapulário se evidencia uma síntese eficaz de espiritualidade mariana que alimenta a devoção dos crentes, fazendo-lhes sensíveis à presença amorosa da Virgem Maria em suas vidas. O Escapulário é essencialmente um “hábito”. Quem o recebe é agregado ou associado em um grau mais ou menos íntimo à Ordem do Carmelo, dedicada ao serviço da Virgem para o bem de toda a Igreja (cf. Fórmula da imposição do Escapulário, no “Rito da Bênção e imposição do Escapulário”, aprovado pela Congregação para o Culto divino e a disciplina dos Sacramentos, 5/1/1996).
Quem veste o Escapulário é, portanto, introduzido na terra do Carmelo, para que “coma de seus frutos e bens” (cf.Jr 2,7), e experimenta a presença doce e materna de Maria, no compromisso cotidiano de revestir-se interiormente de Jesus Cristo e de manifestá-lo vivo em si para o bem da Igreja e de toda a humanidade (cf. Fórmula da imposição do Escapulário, cit.).
Duas, portanto, são as verdades evocadas no sinal do Escapulário: por uma parte, a proteção contínua da Virgem Santíssima, não só ao longo do caminho da vida, mas também no momento da transição até a plenitude da glória eterna; por outra, a consciência de que a devoção a ela não pode limitar-se a orações e obséquios em sua honra em algumas circunstâncias, mas deve constituir um “hábito”, como que um tecer permanente da própria conduta cristã, entrelaçada de oração e de vida interior, mediante a freqüente prática dos Sacramentos e o concreto exercício das obras de misericórdia espiritual e corporal.
Deste modo o Escapulário se converte em sinal de “aliança” e de comunhão recíproca entre Maria e os fiéis: de fato, traduz de maneira concreta a entrega que Jesus, desde a cruz, fez a João, e nele a todos nós, de sua mãe, e a entrega do apóstolo predileto e de nós a Ela, constituída como nossa Mãe espiritual.
Desta espiritualidade mariana, que plasma interiormente as pessoas e lhes configura a Cristo, primogênito entre muitos irmãos, são um esplêndido exemplo os testemunhos de santidade e de sabedoria de tantos Santos e Santas do Carmelo, todos eles crescidos à sombra e sob a tutela da Mãe.
Também eu levo sobre meu coração, desde há tanto tempo, o Escapulário do Carmo! Pelo amor que nutro para com a celeste Mãe comum, cuja proteção experimento continuamente, auguro que este ano mariano ajude a todos os religiosos e religiosas do Carmelo, e aos piedosos fiéis que a veneram fielmente, a crescer em seu amor e irradiar no mundo a presença desta Mulher do silêncio e da oração, invocada como Mãe da misericórdia, Mãe da esperança e da graça.
Com estes augúrios, distribuo com gosto a Benção Apostólica a todos os frades, monjas, irmãos leigos e leigas da Família Carmelitana, que tanto se esforçam por difundir entre o povo de Deus a verdadeira devoção a Maria, Estrela do Mar e Flor do Carmelo!
Vaticano, 25 de março de 2001.
João Paulo II
Todo de Maria
Pergunta: Numa perspectiva cristã, falar de maternidade leva espontaneamente a falar da Mãe por excelência, a de Jesus. Totus Tuus, Todo de Maria, é o lema escolhido pelo seu Pontificado. O relançamento da teologia e da devoção marianas – de resto, em fiel continuidade com a ininterrupta tradição católica – é um outro caráter distintivo do ensinamento e da ação de João Paulo II. Por outro lado, hoje se multiplicam vozes e notícias de aparições misteriosas e mensagens da Virgem; multidões de peregrinos põem-se de novo a caminho, como em outros séculos. Santidade, o que pode dizer-nos a respeito?
Resposta: Totus Tuus. Esta fórmula não tem apenas um caráter pietista, não é uma simples expressão de devoção: é algo mais. A orientação para semelhante devoção se afirmou em mim no período em que, durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhava como operário numa fábrica. Num primeiro momento, achei que devia afastar-me da devoção Mariana da infância, em favor do cristocentrismo. Graças a São Luiz Grignon de Montfort, compreendi que a verdadeira devoção à Mãe de Deus é, ao contrário, cristocêntrica; aliás, é radicada muito profundamente no Mistério trinitário de Deus, e nos referentes à Encarnação e à Redenção.
Desse modo, portanto, redescobri com consciência a nova piedade Mariana, e esta forma madura de devoção à Mãe de Deus me acompanhou ao longo dos anos: seus frutos são a Redemptoris Mater e a Mulieris dignitatem.
No que diz respeito à devoção Mariana, cada um de nós deve ter claro que não se trata só de uma necessidade do coração, de uma inclinação sentimental, mas que corresponde também à verdade objetiva sobre a Mãe de Deus. Maria é a nova Eva, que Deus põe diante do novo Adão-Cristo, a começar pela Anunciação, através da noite do nascimento em Belém, o convite nupcial em Caná da Galiléia, a cruz sobre o Gólgota, até o cenáculo do Pentecostes, a Mãe de Cristo Redentor é a Mãe da Igreja.
O Concílio Vaticano II dá um passo de gigante tanto na doutrina quanto na devoção marianas. Não é possível agora reproduzir todo o maravilhoso capítulo VII da Lumen gentium, mas precisaria fazê-lo. Quando participei do Concílio, reconheci-me totalmente neste capítulo, onde encontrei todas as minhas experiências anteriores, desde os anos da adolescência, bem como aquela peculiar ligação que me une à Mãe de Deus em formas sempre novas.
A primeira forma, a mais antiga, relaciona-se com os momentos de pausa, na infância, diante da imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na igreja paroquial de Wadowice, e está ligada à tradição do escapulário carmelita, particularmente eloqüente e rica de simbolismo, que conheci desde a juventude, através do convento dos carmelitas “sobre a colina”, em minha cidade natal. Está ligada, além disso, à tradição dos peregrinos ao santuário de Kalwaria Zebrzydowska, um daqueles lugares que atraem multidões de peregrinos, de modo especial do Sul da Polônia e de além dos Cárpatos. Este santuário regional tem uma peculiaridade de ser não só mariano, mas também profundamente cristocêntrico. E os romeiros que lá chegam, durante sua estada junto ao santuário de Kalwaria, percorrem antes de tudo as “veredas”, que são uma Via crucis, em que o ser humano encontra o próprio lugar perto de Cristo através de Maria. A Crucificação é também o ponto topograficamente mais alto, que domina todos os arredores do santuário. A solene procissão mariana que lá se realiza antes da festa da Assunção, nada mais é do que a expressão da fé do povo cristão na participação particular da Mãe de Deus na ressurreição e na glória do próprio Filho.
Desde os primeiríssimos anos, minha devoção Mariana relacionava-se estreitamente à dimensão cristológica. O que me conduzia nesta direção era precisamente o santuário de Kalwaria.
Um capítulo à parte é Jasna Góra, com seu ícone de Nossa Senhora Preta. A Virgem de Jasna Góra há séculos é venerada como Rainha da Polônia. Este é o santuário de toda a nação. Junto de sua Senhora e Rainha, a nação polonesa durante séculos procurou, e continua procurando, sustentação e força para o renascimento espiritual. Jasna Gora é o lugar de uma particular evangelização. Os grandes eventos da vida da Polônia são sempre de algum modo ligados a este lugar: tanto a história antiga da minha nação, quanto a contemporânea, encontram o ponto de sua mais intensa concentração exatamente lá, na colina de Jasna Gora.
Tudo o que disse, acredito que explique suficientemente a devoção Mariana do Papa atual e, sobretudo, sua atitude de total entrega a Maria, aquele Totus Tuus.
No que se refere, pois, àquelas “aparições”, àquelas “mensagens” a que aludi, proponho-me a dizer alguma coisa mais adiante nesta nossa conversação.
Texto extraído do livro “Cruzando o Limiar da Esperança”.
Por sua Santidade João Paulo II