A pregação do Evangelho é tanto mais eficaz quanto melhor for a comunicação da Igreja. Comunicação é mais do que discurso, pois se dá no nível verbal e no nível não verbal. A Igreja evangeliza não somente pelo que fala, mas também, ou principalmente, através do silêncio, que possibilita a escuta atenta da Palavra do Senhor.
Se o silêncio perdeu terreno, mesmo nas comunidades cristãs, é porque a oração, a escuta de Deus deixou de ser o centro das nossas comunidades. As nossas urgências cotidianas fazem-nos esquecer o verdadeiramente “necessário” (Lc 10,41). São poucas as pessoas, mesmo entre os cristãos engajados, para quem Deus ocupa o lugar central de suas vidas. Para muitas de nossas comunidades, Deus tornou-se algo assim como a moldura de prata de nossos próprios retratos e interesses individuais. Enquanto percebemos a comunidade como um sistema de apoio, para auxiliar-nos em nossos ideais individuais, somos mais filhos de nossa época do que filhos e filhas de Deus.
No contexto da sociedade atual, o silêncio ganha seu significado mais profundo, como lugar onde Deus se revela a si mesmo, enquanto Deus-conosco,
origem, centro e fim de nossa existência. Um Deus que quer dar-se a nós com amor incondicional e quer ser amado por nós com todo o nosso coração, com toda nossa alma e
com todas as nossas forças.
O silêncio é o lugar do grande encontro, do qual os outros encontros extraem seu significado. No silêncio, deixamos para trás nossas muitas atividades, preocupações, planos e projetos. Através do silêncio, entramos na presença do Deus-amor, nus, vulneráveis, abertos e receptivos.
É falso pensar que ficamos mais próximos uns dos outros apenas quando conversamos, nos divertimos ou trabalhamos juntos. Certamente, tais encontros nos ajudam a crescer em comunhão. No entanto, no silêncio o nosso acolhimento mútuo é aprofundado. Sem a experiência do encontro com Deus proporcionada pelo silêncio, as
comunidades viram rapidamente panelinhas. Começamos a nos apegar uns aos outros, a nos preocupar com o que pensamos e sentimos uns a respeito dos outros. Conflitos
superficiais facilmente tornam-se sérios e causam dolorosas feridas.
Por conseguinte, no silêncio, não só encontramos Deus, mas também nosso verdadeiro eu interior. E é precisamente à luz da presença de Deus que conseguimos perceber quem realmente somos. E, assim, poderemos formar uma comunidade de pessoas que testemunham a presença de Deus em meio a este mundo. De qualquer forma, se conseguirmos cultivar o silêncio de forma inteligente e teologicamente coerente, estaremos melhorando nossa capacidade de pregar o Evangelho em uma sociedade marcada pelo barulho e pela distração.
Dom Luiz Antônio Cipolini, bispo da Diocese de Marília.