“À querida comunidade paroquial de Vera Cruz” – carta do Seminarista João Bonzanini

“Encontrei afinal minha vocação: no coração da Igreja, minha mãe, eu serei o amor” (Santa Terezinha do Menino Jesus).

Estimados irmãos e irmãs, em meados do ano passado, prestes a concluir o processo formativo vocacional na Diocese de Marília, resolvi tomar a decisão de me desligar de tal processo. Em meu coração havia a certeza de que era no melhor a ser feito no momento, e disso não me arrependo de modo algum. Estava bastante adoecido, lidei com a Síndrome do Pânico, com a ansiedade patológica e até mesmo com um pouco de depressão. Desse modo coloquei em xeque minha vocação. Afinal, não tinha mais forças para concluir e, também, não queria chegar com tantos problemas assim no ministério sacerdotal. Foi então que achei não ter mais vocação.

Durante este ano fora do processo formativo pude vivenciar experiências bastantes distintas, algumas até me orgulho enquanto outras não. Contudo, todas elas serviram para o meu amadurecimento pessoal. Creio que Deus vai nos lapidando como pedras, a fim de que assumamos o formato que Ele mesmo deseja.

Muito propicio foi o tempo que tirei para refletir e pensar em minha em conformidade com esta pandemia da Covid-19, e isso serviu para todos nós, afinal qual o sentido da vida? Por que estamos nesta vida? O que queremos fazer com ela? Foi quando me deparei com duas grandes inspirações, uma bíblica e outra teia. O grande norte foi a Palavra do Senhor no evangelho de Marcos, “o que perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, a salvará. Com efeito, que adianta o homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua alma?” (Mc 8, 35b-36). E a outra motivação, nada cristã, mas extremamente humana, foi de Jean Paul Sartre, filósofo existencialista francês, “o homem só se torna homem enquanto encontra um motivo pelo qual estaria disposto a morrer”.

Pois bem, a partir daí fui percebendo, com o passar dos dias e dos acontecimentos, de que a minha vida só tem sentido se for consumida pelo Evangelho, nenhuma outra riqueza ou interesse me realizariam. Somente pela causa de Jesus e da Igreja eu estaria disposto a entregar minha vida e morrer por isso. Portanto, com o coração aberto e disposto a perseverar na fidelidade ao propósito escolhido, como exorta o autor sagrado: “Retorna-te, pois, ao teu primeiro Amor” (Ap2,5), comecei a enxergar que de fato minha vocação é o sacerdócio na Igreja. Sendo assim, tateando nas oportunidades que esse tempo me deu de trabalhos, estudos, convivência, relacionamentos dentre outras coisas, caindo e levantando, com muitos erros, arrependimentos e acertos, como que paulatinamente, a experiência do “Primeiro Amor”, que eu fizera ao longo de tantos anos, foi ocupando novamente o centro da minha vida com muito mais clareza e convicção, fui percebendo o real motivo de minha existência: amar e servir.

Essa experiência de amar e servir eu aprendi, em primeiro lugar, com esta comunidade de Vera Cruz, desde a minha tenra infância indo às missas com minha avó paterna, rezando os terços e novenas nos setores, observando e admirando tantos testemunhos de homens e mulheres de fé que estiveram e estão à frente de nossa comunidade.

Se hoje sou um homem de fé e capaz de reconhecer com clareza a minha vocação é graças a vocês, comunidade paroquial de Vera Cruz, que sempre me acompanhou e proporcionou as maiores experiências de amor, fé e serviço na minha caminhada vocacional, mediante as orações e intercessões de cada um de vocês. Sou extremamente grato a vocês por tudo em todos estes anos e, também, aproveito a ocasião para pedir perdão se em algum momento vos desapontei.

Enfim, agora retorno e sigo na busca do sacerdócio, como diz aquela bela canção vocacional “lá na praia eu larguei o meu barco, junto a Ti buscarei outro mar”, na Diocese de Itapeva junto ao senhor bispo Dom Arnaldo Carvalheiro Neto, mais especificamente irei para a Paróquia São Roque na cidade de Buri. Lá, passarei alguns meses antes da ordenação diaconal e depois serei encaminhado para onde a diocese necessitar, a fim de ser ordenado padre.

Peço, querido irmãos e irmãs, que rezem por mim neste novo recomeço de minha caminhada vocacional. Estaremos sempre juntos pela comunhão na oração pessoal e na Eucaristia celebrada. Deixo uma vez mais minha casa, minha família, amigos e comunidade paroquial para seguir em busca da vontade Daquele que me chamou e, desse modo, devo sempre responder, apesar da minha indigência, como o apóstolo Pedro: “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo” (Jo 21,20).

Que Deus os abençoe imensamente!

Em Cristo Jesus, no seu Sagrado Coração,

João Victor Bonzanini

6 Comentários

  • Magali Regazzo de souza disse:

    Que Deus abençoe sua nova caminhada

  • Ariovaldo disse:

    João Victor, servo de Deus, orgulho de sua comunidade, seu testemunho me fez lembrar da minha amada Célia que sempre dizia o quanto você era vocacionado desde criança, vocação de uma pessoa de caráter que humildemente reconhece suas fraquezas, porém digo que és forte e nossa comunidade tem que além de se alegrar por você, mas também estar em constante oração. Deus te abençoe meu querido irmão que cresceu conosco. Pode acreditar que a Célia está radiante lá no céu por você ser o que é. Brij9s no seu coração e obrigado por ter rezado por mim em meus momentos difíceis.

  • Dirce de Fátima Alves Dos Santos disse:

    Se eu estou feliz.imagino com.que. grande alegria Deus recebe suas palavras. Que ele o conduza sempre rumo ao sagrado coração de.seu.amado filho Jesus…e faça sempre frutificar os dons que a vc foram concedidos.

  • Antônio Cavariani disse:

    Que Deus te abençoe João Vitor, Deus te guiará seus passos no caminho da Igreja e do Evangelho.

  • Ana Bela Dias Cócus, disse:

    João ,vc nem imagina minha alegria …..na minha cabeça não entrava vc fora do sacerdócio “oração move montanha “Sempre orei por vc e vou continuar.Deus o abençoe. Boa noite.

  • Orando por Ti, a partir deste instante.

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