O mistério da paciência de Deus

Não existe «um protocolo da obra de Deus na nossa vida», mas podemos estar certos de que Ele intervém «à sua maneira». Por isso, não devemos ser impacientes nem cépticos, porque quando desanimamos e «decidimos descer da cruz, fazemo-lo sempre cinco minutos antes da revelação». Eis o convite a saber aceitar e a reconhecer os tempos de Deus, dirigido pelo Papa na missa celebrada na manhã de 28 de Junho na capela da Domus Sanctae Marthae. Entre os presentes, o pessoal da Direcção dos serviços de saúde e higiene, chefiado pelo director Patrizio Polisca.

Deus caminha sempre connosco, disse o Pontífice. «O Senhor criou-nos à sua imagem e semelhança». Desde o início dos tempos existe «esta participação do Senhor na nossa vida, na vida do povo», pois «o Senhor está realmente próximo do seu povo».

«Esta proximidade do Senhor é um sinal do seu amor: Ele ama-nos muito e quer caminhar connosco. A vida é um caminho que Ele quis percorrer ao nosso lado. O Senhor entra sempre na nossa vida e ajuda-nos a ir em frente, mas quando vem, nem sempre o faz da mesma maneira. Fá-lo sempre de modos diversos. Há sempre este encontro entre nós e o Senhor».

No trecho do Evangelho de Mateus (8, 1-4) da liturgia do dia «vimos que o Senhor entra na vida do leproso». Narra o evangelista que «quando Jesus desceu do monte, foi seguido por uma multidão. Eis que dele se aproximou um leproso. Prostrou-se diante dele e disse: “Senhor, se quiseres, podes purificar-me”. Ele estendeu a mão, tocou-se e disse: “Quero!”». Jesus intervém «imediatamente: a oração e o milagre».

Ao contrário, na primeira leitura, tirada do livro do Génesis (17,1.9-10.15-22), «vemos que o Senhor entra lentamente na vida da Abraão. Quando Abraão tinha 89 anos», Deus garantiu-lhe o nascimento de um filho. «Hoje lemos que com 99, dez anos depois, lhe prometeu um filho. Os sábios dizem: para o Senhor, um dia é como mil anos, e vice-versa».

«O Senhor tem  sempre um modo de entrar na nossa vida. Às vezes fá-lo tão lentamente que corremos o risco de perder a paciência: “mas, Senhor, quando?”. Rezamos muito mas a sua intervenção não chega à nossa vida». Outras vezes, ao contrário, «pensamos naquilo que o Senhor nos prometeu: é algo tão grande que permanecemos um pouco incrédulos, um pouco cépticos e, como Abraão, um pouco escondidos sorrimos».

O trecho do Génesis «diz-nos que Abraão esconde o seu rosto e sorri. Um pouco de cepticismo: “Com quase cem anos, como posso ter um filho?”». E «o mesmo fará Sara, quando os três anjos» repetem o anúncio «a Abraão, enquanto ela, escondida atrás da porta, espiava para saber do que os homens falavam… E quanto ouviu isto, sorriu de cepticismo».

O mesmo acontece também connosco: «Quantas vezes, quando o Senhor não vem, não faz o que queremos, ficamos impacientes ou cépticos».

«O Senhor tem os seus tempos, mas também muita paciência. Nem só nós temos que ter paciência. Ele aguarda-nos até ao fim da vida, juntamente com o bom ladrão que só assim reconheceu Deus. O Senhor caminha connosco, embora nem sempre se faça ver».

«Às vezes na vida a realidade é muito obscura.. Há muita escuridão. E quando temos dificuldade queremos descer da cruz. Este é o momento exacto: a noite é mais obscura quando se aproxima a aurora. E sempre, quando descemos da cruz, fazemo-lo cinco minutos antes da revelação. É o momento da maior impaciência». Aqui vem em nossa ajuda o ensinamento de Jesus, que «foi tentado a descer da cruz!”». Por isso, é necessária «a paciência até ao fim, como Ele é paciente connosco, caminha sempre na nossa presença».

Papa Francisco

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