“Assim como aceitastes a oferta de Abel, o sacrifício de Abraão e os dons de Melquisedec…” aceitai também as nossas oferendas. (Oração Eucarística I-Missal)
Ofertas, dons, sacrifícios, maná são imagens bíblicas que auxiliam na compreensão do mistério da Eucaristia, como anuncio da morte do Senhor, da fé na ressurreição e da esperança na sua vinda gloriosa (I Cor 11, 24-26). Isso a Igreja proclama desde aquela Quinta Feira em que o Senhor tomou o pão, abençoou, partiu-o e o deu aos seus discípulos dizendo: “Isto é o meu Corpo que será entregue por vós. Fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19)
Os discípulos e as comunidades Cristãs o fizeram; a Igreja o faz sempre, manifestando a fé na presença real de Jesus Cristo, celebrando a Missa como a ceia e sacrifício e realizando a Eucaristia como presença, sacrifício e comunhão do corpo e sangue do Senhor.
Mistério da fé, “mistério da ceia”, ensina São Tomás de Aquino. São Cirilo de Alexandria dizia: “Não perguntes se é verdade ou não; aceita com fé as palavras do Senhor, Ele é a verdade, Ele não mente”.
Já na comunidade de Corinto, vinte anos após a ressurreição do Senhor, o ágape ou a celebração da ceia, tendia a tornar-se mais festiva. Por isso o apóstolo Paulo lembra que o “Banquete” do Senhor que celebra sua Ressurreição e a sua volta, não pode olvidar o aspecto doloroso da sua instituição na noite em que Ele era traído. Isso vale ainda hoje.
A Igreja nos ensina também que o culto de adoração devido à Eucaristia não apenas acontece durante a Missa, mas também fora da celebração dela, conservando as hóstias consagradas, expondo-as aos fiéis para que as venerem com solenidade, levando-as em procissão, adornando Jesus presente nelas. (Mysterium Fidei, 56).
A adoração pública e solene do sacramento da Eucaristia começou no século XIII, na Bélgica. Em 1230 a paróquia de Sant Martin em Liège, realizou uma procissão Eucarística só por dentro da igreja para proclamar a gratidão de Deus pelo dom da Eucaristia. Alguns anos depois (1247) a procissão caminhou pelas ruas de Liège como festa da diocese e, depois, festa nacional na Bélgica. Essa solenidade que se tornou oficial na Igreja por uma Bula do Papa Urbano IV em 1264, portanto, no século XIII, teve sua origem nas visões de Santa Juliana de Mont Cornillon, freira agostiniana. As visões pediam uma festa eucarística no calendário litúrgico.
Depois de celebrar a Ressurreição, a Ascensão, Pentecostes e a Trindade, os Católicos sentiram a necessidade de proclamar a presença de Jesus total, nas espécies consagradas. Era também para combater a tendência de alguns teólogos que sustentavam a presença da idéia da presença Eucarística somente até a comunhão, como acreditam os protestantes. Dessa maneira surge a celebração que depois se chamou “Festa de Corpus Christi”. Quase cem anos depois, em 1323, no século XIV, o Papa João XXII oficializou a festa tornando-a obrigatória em toda Igreja e mandou que se fizesse a grande procissão do Corpo de Cristo, em Roma. Hoje a Igreja celebra no mundo inteiro.
Vale lembrar que ao saciar uma multidão faminta (Jo 6,11) e dizer aos discípulos: “dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16 – Mc 6,37), a palavra de Jesus revela-nos também que a ordem: -“ fazei isto em memória de mim”, não significa somente celebrar a Missa, mas fazer o que Ele fez: Tomou o pão, abençoou. Partiu e deu. Para dar é necessário partir, partilhar.
Os primeiros Cristãos, já tinham o costume de fazer suas “coletas” de bens e de dinheiro para os pobres, durante a celebração da Eucaristia; nesse sentido o problema da fome que atormenta tantos pais de família, governantes e comunidades deve constituir-se em elemento presente em nossa Celebração Eucarística.
“Fome Zero”, “Pão para quem tem fome” e tantos outros projetos são legítimos, mas não deve impedir-nos de sentir, nos irmãos, também a “fome de Deus”.
Os preparativos exteriores para a festa do Corpo de Cristo – da Eucaristia – tampouco deveriam exagerar em enfeites decorações a ponto de o Homenageado “desaparecer” no esplendor das homenagens.
Desde 1264, são 747 anos! Como explica a falta de fé, o pouco fruto de tantas comunhões…
Restam tantas perguntas: Por que uns não crêem, outros não adoram, outros ainda são tão displicentes…
Jesus disse: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, não morrerá, mas terá a vida”.
Tem vida quem não se alimenta? É Igreja quem não tem vida?
“ELE É A VERDADE, ELE NÃO MENTE”.
Monsenhor Nivaldo Resstel, Pároco e Reitor do Santuário